Itália: grande sucesso da conferência nacional dos trabalhadores de Sinistra Classe Rivoluzione

Uma centena de militantes sindicais e trabalhadores se reuniram em Reggio Emilia para a primeira Conferência Nacional dos trabalhadores de Sinistra Classe Rivoluzione (seção italiana da Corrente Marxista Internacional). O evento foi um grande sucesso tanto em termos de público quanto, o mais importante, o nível das discussões políticas.

Uma centena de militantes sindicais e trabalhadores se reuniram em Reggio Emilia para a primeira Conferência Nacional dos trabalhadores de Sinistra Classe Rivoluzione (seção italiana da Corrente Marxista Internacional). O evento foi um grande sucesso tanto em termos de público quanto, o mais importante, o nível das discussões políticas.

No primeiro dia, Paolo Grassi liderou o debate sobre a nossa tese sindical, discutida nas semanas anteriores em cada núcleo do nosso movimento na Itália.

Estamos diante de um ataque sem precedentes aos padrões de vida dos trabalhadores e aos direitos sindicais por parte dos patrões e do governo Renzi. No outono de 2014 o governo aprovou uma lei, “Ato sobre os trabalhos”, para abolir o que havia sobrado do Código do Trabalho (Statuto dei Lavoratori) conquistado após o Outono Quente de 1969. Com a nova lei, os patrões têm liberdade para contratar e demitir trabalhadores conforme sua vontade. Os trabalhadores tentaram resistir e inundaram as ruas de Roma no dia 25 de outubro com um milhão de manifestantes, mas os líderes sindicais da Confederazione Generale Italiana del Lavoro (CGIL) não tinham a menor intenção de continuar com a luta, fazendo com que o movimento fosse derrotado.

O próximo passo para a classe dominante é uma verdadeira pulverização do acordo sindical em todos os setores do país. Os patrões italianos decidiram que só podem sobreviver no mercado internacional cortando de maneira vil os custos trabalhistas.

Durante os últimos meses houve um aumento nos incidentes de assédio moral e demissão de delegados sindicais em diferentes fábricas, particularmente no principal complexo industrial da Itália, Emilia-Romagna. Ações como essas têm como objetivo enviar uma mensagem: os patrões querem ter o direito sobre a vida e a morte dos trabalhadores nos seus locais de trabalho.

Os dirigentes sindicais não fazem ideia de como resistir a essa ofensiva. Eles estão completamente despreparados para agir em tempos de crise, quando não há mais qualquer espaço para concessões. Governo e patrões se recusam até mesmo a dialogar com os sindicatos.

Esse novo cenário criou uma paralisação na luta de classe de todo o país. Este outono foi um dos mais “frios” desde os anos 1950.

O papel de um sindicato marxista precisa ser o de lutar contra o isolamento dos militantes, assim como o combate aos ataques dos patrões e de elementos da direita dentro das lideranças sindicais. Em situações difíceis como essa, uma tendência de adaptação ao pensamento “realista” burocrático pode se desenvolver. Ao mesmo tempo, seria um erro agir de maneira impaciente e dar ouvidos às sirenes “sectárias” rompendo com a maioria do movimento sindical.

A ironia da situação atual é que a imensa maioria dos “sindacati extraconfederali” (literalmente “fora das três principais confederações”, dissidentes do CGIL-CISL-UIL desde os anos 1980) também estão em profunda crise, com uma forte tendência de “adaptação” ao aparato estatal que claramente emerge.

Conforme explicou Paolo Brini, membro do comitê central da FIOM-CGIL, um sindicalista de Sinistra Classe Rivoluzione é antes de mais nada uma vanguarda marxista cujo principal objetivo em sua atuação sindical é criar a organização marxista.

Vários camaradas trabalhadores participaram do debate. Alguns explicaram sua luta diária como sindicalistas revolucionários contra a repressão e o isolamento, outros se focaram em nossa intervenção nas últimas greves.

Nossa posição não é sermos simples comentadores de eventos, mas de agentes ativos na luta de classes deste país. A maioria daqueles que compareceram à conferência eram delegados sindicais de toda a Itália, representando trabalhadores da siderurgia, transportes, comércio, educação e do setor público. Nós também temos um camarada na liderança nacional do CGIL e outros na liderança do FIOM (siderurgia), FLC (educação) e NIDIL (trabalhadores temporários).

Os trabalhadores da Saeco, uma indústria siderúrgica próxima à Bolonha, lutaram por 73 dias contra o fechamento da fábrica organizando piquetes em seus portões. Todo a região se envolveu na luta, mas no final um acordo ruim foi assinado pelos sindicatos e 400 dos 558 trabalhadores se tornaram desnecessários. Nossos camaradas trabalhadores de outras fábricas se manifestaram mostrando solidariedade e apresentando uma outra saída para a luta, fazendo com que ganhassem o respeito dos trabalhadores.

Em Genoa, os trabalhadores da fábrica de aço Ilva, nas proximidades de Cornigliano, ocuparam a fábrica no final de janeiro contra propostas de novas demissões e uma ameaça de fechamento por parte do governo. Após um dia de greve geral de todos os trabalhadores siderúrgicos da cidade chamada pela FIOM, o governo recuou parcialmente e concordou em se reunir com os trabalhadores.

Durante esta greve nós pudemos ver um novo fenômeno: um clima de forte e determinada militância por parte dos trabalhadores mais jovens, que claramente não veem qualquer futuro se a fábrica for fechada e por isso estão prontos para lutar até o fim.

Portanto, se o panorama geral no movimento é de letargia, ao mesmo tempo, em um grande número de fábricas e locais de trabalho, os trabalhadores estão começando a entender que somente uma luta radical pode trazer o sucesso. Eles estão prontos para atender a este tipo de chamado e não tão animados a comparecer às “costumeiras” greves de duas horas ou manifestações aos sábados em Roma, pois entendem que “os métodos comuns de luta” do passado são inúteis.

Esta é uma grande verdade no setor logístico, onde ocorreu um grande número de greves, algumas delas vitoriosas, e às quais foi dedicado o segundo dia da Conferência em uma discussão introduzida por Sonia Previato.

A logística é um dos poucos setores da economia que não está em crise e onde os trabalhadores são severamente explorados. Motoristas, carregadores e entregadores costumavam trabalhar de 12 a 15 horas por dia, normalmente por €5 a €6 a hora, sem qualquer direito, sem plano de saúde e sem feriados. Eles trabalham juntos, mas são contratados por diferentes empresas para melhor dividi-los. Em muitos casos os trabalhadores são imigrantes com pouquíssima experiência sindical e que acabaram de despertar para a vida política.

Como disse um de nossos camaradas que trabalha como motorista, “antes (de nos organizarmos) nós éramos como animais, agora nós somos seres humanos”.

As greves nos galpões das empresas de logísticas foram bastante militantes, com bloqueios a todas as entregas e paralisação de todas as atividades dos galpões.

Por serem muito prejudiciais às empresas, em muitos casos as greves levaram a vitórias, renovando a confiança dos trabalhadores. A Sinitra Classe Rivoluzione está ativa neste setor e organiza motoristas em cidades como Milão e Roma.

Todos eles participaram com fortes pronunciamentos neste debate. Em outras situações, como Motovario e Carpigiana em Modena, nossos delegados sindicais da siderurgia foram capazes, com tática e lemas corretos, de unir operários e trabalhadores de baixa qualificação da mesma fábrica em uma luta por melhores condições para estes últimos, os mais explorados dos proletários.

A estratégia dos patrões é a de dividir e conquistar, por isso o trabalho de um sindicato deve ser o de quebrar as divisões artificiais entre os trabalhadores. Este foi um tópico amplamente discutido na Conferência.

Foi demonstrado que há um potencial de unificar diferentes setores da classe trabalhadora nos últimos dias em Castelfrigo, uma fábrica de processamento de alimentos que emprega cerca de mil trabalhadores. Duas categorias da CGIL (FLAI, do setor alimentício, e FILT, do setor logístico), que não são as mais à esquerda, foram forçadas pela pressão da militância a organizar uma greve total. Pela primeira vez, trabalhadores chineses, árabes e africanos lutaram juntos desafiando até mesmo uma tentativa policial de acabar com a greve. Os trabalhadores tiveram uma vitória completa.

Nós acreditamos que esta luta dos mais desesperançosos setores do proletariado é um sinal do que há de vir. Estes novos tempos criarão novos militantes da luta de classes e uma nova liderança para esta luta.

Hoje, o sentimento dominante entre os líderes sindicais é o de confusão, especialmente entre aqueles de esquerda. O projeto político de Landini, secretário-geral do FIOM, “Coalizione sociale” está suspenso no ar. Todavia, decidimos que no próximo congresso da CGIL vamos defender a necessidade de um documento de esquerda em oposição ao da maioria.

A conferência se encerrou em um clima de estusiasmo com a execução do hino da Internacional e a confiança que somente nossa tendência, através da intervenção nas lutas diárias da classe trabalhadora, pode levar os trabalhadores a conquistar o poder.

Tradução: Felipe Libório