Hoje é Nakba, a “Catástrofe”, para os palestinos

Em sessão presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, e com apoio decisivo dos EUA e da URSS stalinista, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947, recomenda a adesão e implementação do Plano de Partilha da Palestina que deveria substituir o controle imperialista britânico sobre a Palestina.

Em sessão presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, e com apoio decisivo dos EUA e da URSS stalinista, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947, recomenda a adesão e implementação do Plano de Partilha da Palestina que deveria substituir o controle imperialista britânico sobre a Palestina. Em 14 maio de 1948, David Ben-Gurion, o chefe-executivo da Organização Sionista Mundial e presidente da Agência Judaica para a Palestina, declarou o “estabelecimento de um Estado Judeu em Eretz Israel (Terra de Israel)”, hoje conhecido como o Estado de Israel. Esse Estado se baseia na religião e em um suposto “sangue judeu”, ou seja, é um Estado racista e teocrático, como o Irã ou a África do Sul do Apartheid.

As organizações sionistas então atacaram o povo palestino, suas vilas e cidades, com milícias e enormes forças organizadas e armadas pelos imperialistas e para URSS. O resultado foi a “Nakba”, a Catástrofe. Cidades e vilas incendiadas, campos de oliveiras arrasados, milhares de mortos e cerca de 800 mil palestinos expulsos de suas terras e casas. Até hoje, os descendentes destes palestinos vivem em campos de refugiados no Jordânia, no Líbano, na Síria e outros países.

O livro de Ralph Shoenman desvenda a história da criação de Israel, as mentiras inventadas e propagandeadas para acobertar o massacre e a tomada da Palestina assim como as ligações entre os judeus sionistas para organizar o terror entre os judeus e força-los a ir para a Palestina, já na década de 30. Assim foi forjado o Estado Judeu, símbolo de terror e massacres.

Em homenagem a luta contra esta Nakba permanente desde 1948 que vive o povo palestino, publicamos abaixo o primeiro capítulo do livro de Ralph Shoenman.  

 

Ralph Schoenman

Capítulo 1. Os quatro mitos

Não é casual que quando alguém tente analisar a natureza do sionismo — suas origens, história e dinâmica — esbarre com gente que queira assustá-lo ou ameaçá-lo. Faz pouco tempo, os organizadores de um comício sobre as reivindicações do povo palestino fizeram menção a ele em entrevista a uma emissora de rádio em Los Angeles (a KPFK) veio por telefone uma avalanche de ameaças anônimas de bombas.

Também não é fácil, nos Estados Unidos ou Europa Ocidental, difundir informações sobre a natureza do sionismo ou analisar os fatos específicos que transformaram o sionismo num movimento político. Até mesmo o anúncio oficial de fóruns ou assembleias sobre o tema nas universidades provoca invariavelmente uma campanha 

destinada a impedir a discussão. Cartazes são arrancados logo que são colados. Piquetes volantes de jovens sionistas irrompem nas reuniões para acabar com elas. As mesas onde são expostos os documentos são destruídas e logo aparecem artigos e panfletos denunciando os oradores como antissemitas, ou como renegados no caso de serem de origem judaica.

Tal animosidade geral e calúnia contra os antissionistas devem-se ao enorme contraste entre a ficção oficial sobre o sionismo e o Estado de Israel, de um lado, e a prática bárbara de sua ideologia colonial e seu aparato repressivo, de outro. As pessoas impressionam-se quando têm a oportunidade de ouvir ou ler algo sobre o século de perseguição que vêm sofrendo os palestinos. Por isso, os defensores do sionismo incansavelmente evitam a análise coerente e desapaixonada da história do virulento chauvi­nismo do movimento sionista e do Estado que encarna seus valores.

A ironia de tudo isso é que, quando estudamos o que os sionistas têm escrito e dito — sobretudo, quando falam para eles mesmos — não fica nenhuma dúvida sobre o que fizeram ou sobre seu lugar no espectro político desde o último quarto do século 19 até hoje.

 

Quatro mitos fundamentais têm moldado a consci­ência da maior parte de nossa sociedade sobre o sionismo.

O primeiro é o de “uma terra sem povo para um povo sem terra”, mito assiduamente cultivado pelos primei­ros sionistas para criar a ficção de que a Palestina era um lugar remoto e desolado que esperava que alguém a ocupas­se. A essa pretensão veio em seguida a negação da identida­de, nacionalidade ou títulos legítimos de posse dessa terra pelos palestinos, que viveram nela tempo imemorável.

segundo é o mito da “democracia israelense”. Inumeráveis notícias e referências ao Estado de Israel na televisão ou na imprensa incluem como adendo que ela se­ria a única “autêntica” democracia do Oriente Médio. Na realidade, Israel é tão democrático como pode sê-lo o es­tado de apartheid na África do Sul. As liberdades civis, os procedimentos judiciais e os direitos humanos básicos são negados por lei aos que não cumprem os requisitos raciais e religiosos.

 O terceiro mito é o da “segurança” como força motriz da política exterior israelense. Os sionistas susten­tam que seu Estado tem de ser a quarta potência militar do mundo porque Israel viu-se obrigado a se defender da ameaça iminente das massas árabes, primitivas, cheias de ódio e que há pouco abandonaram as árvores.

 

O quarto mito é que o sionismo é o “herdeiro mo­ral” das vítimas do Holocausto. E o mais difundido e o mais insidioso dos mitos sobre o sionismo. Os ideólogos desse movimento se dizem envoltos no sudário coletivo dos 6 milhões de judeus que foram vítimas do assassinato nazista. A cruel e amarga ironia dessa falsa reivindicação reside em que o movimento sionista manteve  desde o princípio uma ativa coalizão com o nazismo.

A maior parte das pessoas estranha o fato de que o movimento sionista, que sempre invoca o horror do Ho­locausto, tenha colaborado ativamente com o inimigo mais feroz que os judeus já tiveram. No entanto, a história re­vela não somente uma comunidade de interesses, mas uma profunda afinidade ideológica que tem sua raiz no extremo chauvinismo que compartilham.