Grécia: as conclusões políticas da reunião do CC de SYRIZA

Informe e análise escritos pela Tendência Comunista de SYRIZA sobre a reunião do Comitê Central de SYRIZA celebrada no sábado, dia 8 de agosto.

Publicamos abaixo informe e análise escritos pela Tendência Comunista de SYRIZA sobre a reunião do Comitê Central de SYRIZA celebrada no sábado, dia 8 de agosto.

Na reunião de ontem do Comitê Central de SYRIZA, os representantes da Tendência Comunista expuseram a necessidade da unidade da ala esquerda do partido contra a equipe pró-Memorando da liderança.

Antes da reunião, a Tendência Comunista realizou uma campanha de duas semanas de coleta de assinaturas para pressionar por um Congresso Extraordinário de SYRIZA antes da assinatura do novo Memorando, visando uma mudança radical na política e na liderança. A campanha da Tendência Comunista recebeu uma resposta positiva com o apoio de 170 membros do partido de 90 organizações locais e 35 cidades diferentes.

A proposta da Tendência Comunista apresenta contraste gritante com a proposta da liderança que defende um Congresso Extraordinário depois da assinatura do novo Memorando, a fim de legalizar sua opção pró-Memorando. Esta decisão foi finalmente aprovada pelo CC na reunião de ontem.

Na reunião, os representantes da Tendência Comunista apresentaram a proposta de um Congresso Extraordinário, a ser realizado antes da assinatura do novo Memorando, por uma mudança de política e de liderança, explicando que esta é a real posição alternativa à da liderança. A Plataforma de Esquerda propôs um Congresso Permanente, mas esta posição não estava correta; o órgão não pode eleger uma nova liderança. Além disso, o caráter monotemático de um Congresso Permanente iria impedi-lo de impor a mudança radical necessária de direção política para o partido e não teria legitimidade democrática uma vez que reflete as correlações no partido quando ele foi formado há dois anos.

Contudo, dada a intenção da Plataforma de Esquerda de submeter sua proposta de um Congresso Permanente, se a Tendência Comunista apresentasse sua própria proposta para votação como alternativa, haveria o risco de divisão dos votos da esquerda entre as duas diferentes propostas. Na prática, isto teria fortalecido a proposta da equipe da liderança. Em consequência, os representantes da Tendência Comunista não colocaram a proposta em votação. Em vez disso, votaram criticamente pela proposta da Plataforma de Esquerda que, apesar de sua debilidade, daria uma oportunidade ao partido de condenar o novo Memorando e evitar sua assinatura se fosse votada pela maioria do CC.

Conclusões políticas da reunião do CC

A facção da liderança de SYRIZA, com uma pequena, mas segura maioria (os votos não foram contados), foi capaz de passar sua proposta de convocação de um Congresso Extraordinário em setembro, depois da assinatura do Memorando.

Como o vice-primeiro-ministro, G. Dragasakis, coloca em seu discurso, para a liderança do partido, este congresso está destinado a se tornar um “congresso de refundação”. Em outras palavras, um congresso que irá criar um novo SYRIZA e que irá transformá-lo em um partido de centro-esquerda pró-Memorando. Com este congresso, a liderança tentará pressionar para legitimar sua virada em direção à austeridade e para realizar a exigência da classe dominante de “acertar as contas” com a “inconveniente” ala esquerda de SYRIZA.

O êxito de ontem da liderança se deve à inaceitável linha conciliadora, revelada em relação à virada pró-austeridade do governo, assumida pela maioria da “tendência dos 53”. Também se deve, de forma diferente, às táticas equivocadas conduzidas pelos representantes de KOE e da Plataforma de Esquerda.

Capitulação da maioria dos “53” e a deserção de KOE

Embora a maioria dos membros do grupo dos “53” falasse contra a linha do governo, no final votou a favor da proposta da facção da liderança. Esta posição confirma a avaliação realizada pela Tendência Comunista de que a posição de oposição deste grupo, que participa do núcleo do aparato do partido e que assumiu numerosos cargos do governo, tem limitações específicas e objetivas. Isto porque, mesmo agora, depois da aberta virada pró-austeridade da facção da liderança do partido, este grupo mostrou-se covarde e demonstrou não estar disposto a dar batalha.

Contudo, uma fração minoritária deste grupo mostrou, através de seus discursos e posições antes da votação, que poderia se ter reunido à ala esquerda do partido, se esta tivesse conduzido uma luta real e sistemática para ganhar o controle do partido.

Os quadros da liderança de KOE anunciaram sua renúncia ao CC e seu afastamento do partido, mudando repentinamente do apoio crítico à liderança em todos os principais assuntos, como ficou evidenciado em reuniões passadas, ao “outro extremo, como se vê agora através de seu precipitado abandono do partido sem qualquer tipo de luta.

Tivesse a liderança de KOE colaborado com as outras forças de esquerda do partido nas discussões e votação de ontem, o resultado poderia ter sido muito mais estrito e a facção da liderança teria perdido reservas significativas de prestígio e autoridade, senão a própria batalha. A posição de abandonar a luta não impede objetiva e minimamente a tentativa da facção da liderança de tomar o partido como refém e de colocá-lo no campo do Memorando e da classe dominante. Pelo contrário, favorece isto, enfraquecendo a ala esquerda.

A tática equivocada da Plataforma de Esquerda

Os membros da liderança da Plataforma de Esquerda (composta pela Corrente de Esquerda e pela Rede Vermelha) colocaram corretamente a necessidade de convocar um congresso antes da aprovação definitiva do Memorando, com a finalidade de denunciar e deslegitimar a tentativa de aprovar estas medidas no parlamento. Contudo, sua proposta de um Congresso Permanente não era apropriada, pois com a presença de representantes do congresso fundacional, que ocorreu há mais de dois anos, o presente estado de espírito das fileiras não teria sido refletido. Além do mais, tal congresso não teria o direito, de acordo com o estatuto do partido, de mudar a liderança ou a linha política geral, visto que tais reuniões somente podem se ocupar de questões isoladas.

A decisão de convocar um Congresso Permanente mostra a timidez da liderança da Plataforma de Esquerda de desafiar decididamente a facção da liderança e do governo. Mesmo agora, após a flagrante violação dos princípios políticos, programáticos e estatutários fundamentais de SYRIZA pela facção da liderança, a Plataforma de Esquerda se recusa a pedir uma mudança na liderança do partido, e também recusa claramente qualquer apoio ao governo pró-austeridade. Esta atitude cria confusão entre os melhores militantes e exacerba o sentimento de desmoralização que está aparecendo em suas fileiras.

O que a liderança da Plataforma de Esquerda deveria ter feito, imediatamente depois que o memorando foi assinado pelo governo na Cúpula da União Europeia, era exigir claramente uma mudança na liderança do partido e pedir um Congresso Extraordinário. Na realidade, a Plataforma de Esquerda tem mais membros que o número necessário requerido pelos estatutos para convocar um Congresso Extraordinário (são necessários 15% dos membros do partido para endossar a convocação de um congresso). Os dirigentes da Plataforma de Esquerda deveriam ter declarado aberta e claramente que SYRIZA deve passar às mãos da ala esquerda e, também, deveriam ter mobilizado as fileiras para esta finalidade, tomando a iniciativa por uma ampla unidade de todas as forças de esquerda dentro do partido. Deveriam mostrar-se a favor de novas eleições nacionais para eleger um governo verdadeiramente de esquerda com o objetivo de abolir o Memorando e a austeridade.

A alegação, apresentada pelos líderes da Plataforma de Esquerda, de que não há mais nenhum tempo para se convocar um Congresso Extraordinário antes da assinatura do novo memorando, rejeitando assim a proposta da Tendência Comunista na reunião de ontem, é infundada. A esquerda do partido deveria ter proposto ontem que o CC desautorizasse explicitamente o governo de assinar o novo memorando antes que um Congresso Extraordinário fosse organizado. Então, se a fração da liderança se atrevesse a violar as decisões do CC mais uma vez, o Congresso Extraordinário teria mais outra poderosa razão para pedir uma mudança na liderança do partido. Em vez disso, com a insistência em convocar um Congresso Permanente em vez de um Extraordinário, a liderança da Plataforma de Esquerda facilitou a usurpação do Congresso Extraordinário pela fração do governo, que apareceu como defensora da democracia do partido, embora tenha violado todas as decisões coletivas do partido.

Em vez de dar todos estes necessários passos políticos que descrevemos, a liderança da Plataforma de Esquerda deixou o tempo passar sem travar uma batalha decisiva com táticas claras. Deram, portanto, o necessário tempo à fração do governo para reagrupar e revidar. Até poucos dias atrás a posição da esquerda era extremamente favorável, quando órgão após outro do partido bem como os ramos locais e regionais emitiram declarações contra o novo memorando e a maioria do CC parecia estar contra a facção do governo. No entanto, no final, resistindo ante a passividade da Plataforma de Esquerda, a liderança foi capaz de se impor na crucial votação de ontem no mais alto órgão do partido, mudando toda a situação.

E agora?

A evidente preponderância da fração do governo na reunião de ontem do CC representa um importante desenvolvimento. Semeou a frustração na base, que esperava que a votação fosse pelo menos por uma margem estreita, e exacerbou o estado de ânimo tendente a uma ruptura com o partido. Muitos membros do partido, com sua atitude de desvinculação ou com seu apoio à criação de um novo partido de esquerda, não somente estão expressando seu cansaço ou a perda da esperança na possibilidade de que SYRIZA possa mudar, como também uma perda de fé nas táticas e na política dos dirigentes da esquerda.

Mesmo agora, se a direção da Plataforma de Esquerda apresentasse um plano claro de batalha para colocar o partido nas mãos da ala esquerda, seria capaz de corrigir a situação e dar batalha final e decisiva no próximo Congresso Extraordinário em setembro. A fração do governo é forte somente nas altas esferas do partido. Na base, sua autoridade política sofreu um duro golpe. Cada dia que passa e com cada passo da implementação das cláusulas do memorando, a fração do governo perderá cada vez mais apoio da militância. Contudo, os dirigentes da Plataforma de Esquerda não possuem um plano de batalha.

Ademais, com a insistência equivocada em defender a transição à moeda nacional como o essencial de sua alternativa às políticas de austeridade do governo, que marcou as intervenções de seus representantes na reunião de ontem do CC, deixando de fora as medidas radicais de esquerda que são necessárias, mina-se a influência da ala esquerda do partido. A linha da “ditadura do euro”, que foi defendida no CC pelo líder da Plataforma de Esquerda, camarada Panagiotis Lafazanis, não ajuda a elevar a consciência das bases quanto as tarefas políticas anticapitalistas do momento, que os marxistas consideram necessárias. No momento em que a propaganda vil da classe dominante retrata a Plataforma de Esquerda como parte da “conspiração” da volta ao dracma, a primazia dada à moeda nacional em detrimento das posições radicais anticapitalistas que são necessárias está completamente fora de lugar para combater e afugentar aquela propaganda.

O comunicado emitido pela Plataforma de Esquerda depois da reunião de ontem do CC não explica com clareza o que de se fazer agora. Estigmatiza o Congresso Extraordinário como “sem sentido”, sugerindo que poderia não participar dele. O equilíbrio de forças na ala esquerda do partido está dando lugar agora a condições políticas concretas e objetivas. Com suas pequenas forças, a Tendência Comunista de SYRIZA não pode impor a necessária e decisiva batalha que poderia girar o partido às mãos da esquerda. Estamos e permanecemos em oposição a abandonar o partido antes de realizar todos os esforços possíveis para arrebatar seu controle da fração do governo e colocá-lo nas mãos da ala esquerda. No entanto, isto não depende de nós; depende quase que exclusivamente da Plataforma de Esquerda.

Portanto, é natural que as táticas e a orientação imediata da Tendência Comunista sejam decididas por seus membros, levando em conta a posição da Plataforma de Esquerda para o próximo período uma vez que esta posição se tenha definido. Em qualquer caso, o critério principal para estas decisões será a necessidade de fortalecer o vínculo entre os militantes de esquerda das bases de SYRIZA e as ideias e o programa do marxismo que consistentemente têm sido defendidos pela Tendência Comunista.

Tradução Fabiano Adalberto