Grã-Bretanha diante de uma calamidade econômica

O capitalismo britânico encontra-se claramente em estado lamentável. O miserável surto de crescimento de alguns anos atrás desapareceu completamente, deixando o Reino Unido em posição desastrosa. Todas as previsões econômicas das principais instituições para o próximo período foram rebaixadas em relação às de um ano atrás.

O último prognóstico a ser divulgado é o da Comissão Europeia que agora acredita que o crescimento na Grã-Bretanha estará entre os mais baixos da Europa, projetando um crescimento de meros 1,1% em 2019. Espera-se que o crescimento “mantenha-se moderado no horizonte do prognóstico”, diz a previsão. Isso coincide com outras avaliações do Fundo Monetário Internacional e do Banco da Inglaterra, que baixaram suas previsões de crescimento.

Contudo, a previsão da Comissão Europeia está baseada na manutenção das atuais relações comerciais. Esta é uma suposição arriscada, uma vez que a Grã-Bretanha pode facilmente sair da União Europeia sem um acordo. Deixando esse “pequeno” detalhe de lado, em qualquer caso agora se espera que o crescimento do Reino Unido seja baixo, enquanto que o investimento empresarial “permanecerá moderado após um período de maior incerteza”. Também se espera que o crescimento líquido das exportações seja “marginalmente moderado”.

Isso pinta uma imagem muito sombria para a economia britânica e para os padrões de vida.

Incerteza e estagnação

Com a inflação subindo para 3,2%, o Banco da Inglaterra foi forçado a elevar as taxas de juros, pela primeira vez em 10 anos – de fato, desde o início da crise mundial. A taxa de juros agora é de 0,5%, permanecendo a mais baixa em 300 anos, além da taxa de 0,25% mantida durante os últimos 12 meses.

Há muito dinheiro barato, mas não há investimento. No entanto, as grandes empresas estão sentadas em uma pilha de dinheiro de £700 bilhões. Por que preocupar-se em investir quando há excesso de capacidade (superprodução) e demanda fraca? Isso é particularmente verdade dada a incerteza do Brexit. O dinheiro barato só é usado para comprar ativos, produzindo bolhas especulativas na economia, em vez de ser usado para investimentos produtivos.

Embora as cifras oficiais de desemprego sejam as mais baixas em 42 anos, não levam em consideração os altos níveis de subemprego. Além do mais, os empregos que estão sendo criados são frequentemente de baixos salários e de baixa qualificação. É por isso que a produtividade, a produção por hora dos trabalhadores, vem caindo. Está no nível mais baixo em 200 anos! Sem o necessário investimento em empregos altamente qualificados, esta continuará sendo uma característica permanente da economia britânica.

Os gastos do consumidor foram os mais baixos em outubro desde 2009, de acordo com a CBI [Confederação da Indústria Britânica], um indicador da redução das despesas domésticas. Isso acompanhou os decepcionantes números das vendas no varejo em setembro. A sondagem da CBI de 106 empresas – das quais 49 eram varejistas – mostrou que 50% dos varejistas disseram que o volume das vendas caiu em outubro em comparação com ano passado, enquanto que só 15% disseram que suas vendas aumentaram. Com a queda dos salários reais, as pessoas estão claramente reduzindo suas compras.

Insustentável

Mais recentemente, o nível geral da dívida do cartão de crédito aumentou, subindo 5% neste ano para alcançar a enorme quantia de £69 bilhões. O motivo desta elevação é o baixo nível dos salários. Contudo, não se pode aumentar a dívida pessoal por muito tempo. Eventualmente, terá de ser paga com juros.

Visto que a economia está desacelerando, ficará mais difícil pagar a dívida do cartão de crédito. Os últimos dados de empréstimos do Banco da Inglaterra mostram que os empréstimos ao consumidor britânico aumentaram 9,9% em setembro em relação ao ano anterior, rondando o nível dos 10% que vem mantendo desde junho.

Essa dívida não está servindo para aumentar os padrões de vida, mas simplesmente para manter as coisas como estão. Isso claramente não é sustentável. É por isso que recentemente a Standard & Poor’s, grupo de classificação derisco, advertiu que “a experiência passada mostra que os credores têm dificuldades para evitar o ciclo crítico inerente ao crédito ao consumidor, e o impacto pode ser severo”. De fato, a dívida relativa ao crédito provavelmente arrastará para baixo o crescimento das despesas familiares.

Declínio terminal

Essa estagnação e a queda nos padrões de vida estão aumentando o ressentimento e a raiva, uma vez que os do topo estão se tornando cada vez mais ricos às nossas custas. As revelações do Paradise Papers simplesmente adicionarão combustível ao fogo. Um possível colapso nas negociações da Brexit significará que todas as apostas estão suspensas.

A economia britânica parece estar a ponto de cair no precipício, como diz o provérbio. Como tal, a queda nos padrões de vida dos últimos anos será incomparável ao colapso que veremos no futuro.

Adicionando-se a esse cenário está a perspectiva iminente de uma nova recessão mundial. A chamada recuperação claramente não está levando a lugar algum. De fato, é a mais frágil da história. Uma nova recessão pode mergulhar a economia mundial em outra Depressão, com todas as consequências que isso significa.

O capitalismo britânico está em situação de declínio terminal. Nessa base, estamos enfrentando uma situação de pesadelos para a classe trabalhadora. Nossa única esperança é a derrubada do sistema e a introdução de um plano socialista de produção.

Publicado originalmente em Socialist Appeal, seção britânica da Corrente Marxista Internacional, sob o título “An economic calamity facing Britain”, publicado em 27 de novembro de 2017.

Tradução de Fabiano Leite