Fusão: Esquerda Marxista e Juventude Revolução se unem numa só organização

Num momento em que toda a esquerda e os que se reivindicam do socialismo estão rachando e se dividindo, os revolucionários de fato se unem!

Nos dias 18, 19 e 20 de Julho, 115 jovens vindos da Paraíba, Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso, Paraná e Rio de Janeiro, além de dois convidados internacionais vindos da Espanha e Venezuela, realizaram o 11º Encontro Nacional da Juventude Revolução no Acampamento Nacional pela Revolução em um sítio de Ibiúna, interior de SP.

Do início ao fim o clima de grande entusiasmo embalou as discussões sobre diversas questões da luta de classes no Brasil e no mundo, bem como a organização da juventude e as tarefas dos jovens revolucionários no atual período.

Na mesa de abertura, no início da tarde do dia 18, fizeram as saudações Juanjo Lopez (Secretário Geral do Sindicato de Estudiantes da Espanha), Miranda (Coordenador Nacional do Movimento Negro Socialista), Caio Dezorzi (pelo Comitê Central da Esquerda Marxista) e Fabio Ramirez (pela Coordenação Nacional da JR).

Depois das saudações iniciais, foi exibido o filme comemorativo de 20 anos do Sindicato de Estudiantes da Espanha e seguiu-se um debate com Juanjo que explicou como se organizam os estudantes espanhóis em defesa da educação pública, laica e gratuita, sempre levantando a bandeira pelo socialismo.

Ainda na noite de Sexta, aproveitando a presença de Miranda, foi realizada uma reunião de apresentação do MNS (Movimento Negro Socialista) com a participação de mais de 30 jovens – alguns aderiram ao MNS no ato.

No dia 19, os trabalhos tiveram início com Leonardo Badell – jovem venezuelano que foi eleito dentro do PSUV como vocero do Batalhão número 13 “Alberto Lovera” – que fez uma explanação sobre a revolução na Venezuela, os erros e acertos de Chávez, o importante papel da classe operária e a intervenção da CMR (Corrente Marxista Internacional) dentro do PSUV e na FRETECO (Frente de Trabalhadores em Empresas Ocupadas).

Depois do almoço, enquanto alguns se arriscavam na piscina sob o vento frio de Ibiúna, bancas com livros, camisetas e o novo gibi da JR, continuavam arreacadando o dinheiro para bancar a atividade.

Quando teve início a discussão sobre a situação política no Brasil sob o Governo Lula, todos já estavam bem integrados e nos Grupos de Trabalho a discussão foi de elevadíssimo nível.

No Grupo sobre Juventude Trabalhadora, foram discutidas questões sobre a precarização do trabalho dos jovens, com destaque às novas empresas de Telemarketing que têm provido o primeiro emprego de muitos jovens, geralmente sem qualquer direito trabalhista. Foi discutida também a luta pela redução da jornada semanal de trabalho no Brasil. Juanjo trouxe o elemento de que há agora uma diretiva da União Européia que busca impor jornadas de mais de 60 horas semanais na Espanha e em outros países europeus. Mas o centro do debate se deu em torno da luta pela estatização da Flaskô (fábrica ocupada de Sumaré – interior de São Paulo – sob controle operário desde 2003). Havia uma delegação de jovens trabalhadores da Flaskô que explicou a situação difícil pela qual a fábrica está passando e a necessidade da JR continuar dando prioridade a este combate como o tem feito desde o início.

No Grupo sobre Movimento Estudantil Universitário, muitas experiências foram trocadas entre jovens do Sul, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do país e o debate começou a se concentrar em como combater a divisão do movimento estudantil, na luta contra o REUNI, PROUNI, Reforma Universitária e por vagas para todos na universidade pública, contrariando a lógica de “reserva de vagas”. E daí deve resultar um projeto de tese para o CONEB da UNE (Conselho Nacional de Entidades de Base) marcado para o fim deste ano.

A presença de um estudante da FEUDUC, do Rio de Janeiro, que compartilhou a luta que estão travando por lá, levou o Encontro Nacional da JR a propor uma campanha pela Federalização da FEUDUC.

Já no Grupo sobre Movimento Estudantil Secundarista, a discussão girou em torno da formação de grêmios livres e da luta pelo Passe Livre Estudantil. Uma delegação de 4 jovens de Mirandiba – cidade do sertão de Pernambuco, próximo a Serra Talhada – relatou a dura batalha que travam os estudantes secundaristas todos os anos. Só há 3 escolas na cidade. Uma estadual e duas municipais. As 3 ficam no centro. Os estudantes que moram na zona rural precisam cruzar 13 ou 14 km para chegar às escolas. A prefeitura só fornece transporte para os estudantes das escolas municipais. Os da escola estadual têm que se virar. Como se isso não bastasse, o transporte oferecido pela prefeitura são paus-de-arara (caminhões abertos com acentos de madeira). Quando chove não há transporte. E como se isso também ainda não bastasse, todo fim de ano o prefeito atrasa os salários e no início de cada ano, os motoristas fazem greve e só voltam a transportar os estudantes a partir de Abril. E isso depois dos estudantes que moram na zona urbana terem pressionado muito o prefeito em solidariedade aos estudantes da zona rural.

Essa situação trazida pelos jovens companheiros de Mirandiba, demonstra o quão grande e desigual é o Brasil. A realidade de Mirandiba é a mesma em inúmeras cidades do país. O Encontro Nacional da JR decidiu incorporar na luta nacional pelo Passe-Livre Estudantil, uma batalha nacional para ajudar os estudantes de Mirandiba a conquistar ônibus para transportá-los com dignidade até a escola.

A discussão foi encerrada com a JR reafirmando suas posições pela ruptura do Governo Lula com a burguesia; contra os acordos Lula-Bush sobre o Etanol; contra o PAC e as privatizações; pela anulação da privatização da Vale do Rio Doce; pela Estatização das Fábricas Ocupadas sob Controle Operário; contra a criminalização dos movimentos sociais; contra as drogas; pela retirada das tropas do Haiti.

Dentre a delegação vinda do Nordeste, havia um grupo chamado “Movimento Levante” de Campina Grande (Paraíba), que atua principalmente nas universidades. E estes companheiros trouxeram uma importante contribuição, não apenas sobre o movimento estudantil, mas também sobre a transposição do Rio São Francisco, que é um tema que atinge mais a região nordeste e que a JR ainda não havia tomado posição. O ENJR definiu posição contrária à transposição e somar esforços à luta para barrá-la.

Entretanto, os mesmos companheiros de Campina Grande, defenderam a posição pela legalização da maconha. Uma discussão se desenvolveu, o ENJR reafirmou sua posição contrária à legalização e propôs estabelecer um debate com troca de textos e visitas de camaradas da JR a Campina Grande para prosseguir a discussão com os companheiros.

“A Revolução une os Revolucionários”

No último dia, Ramirez da CNJR, abriu o ponto previsto para discutir a proposta de fusão com a Esquerda Marxista, basenado-se num texto publicado em 1º de Maio no site da JR. A proposta havia sido feita pela EM ao 10º ENJR e por meses os jovens discutiram a questão para poder decidir nesse 11º Encontro Nacional.

Este foi o ponto em plenário em que um maior número de jovens se inscreveu para falar. É impressionante o avanço, o crescimento na discussão desde em que ela foi iniciada com os companheiros. Dos 115 jovens presentes, apenas um terço era de militantes da Esquerda Marxista e da JR simultaneamente. Alguns eram observadores – principalmente a delegação vinda do nordeste. Mas a maioria era composta por militantes da JR, que não militam na Esquerda Marxista.

E todas as intervenções foram a favor da fusão com a Esquerda Marxista, reconhecendo que uma organização de jovens que se reivindica do socialismo, da revolução, mas não se coloca a questão de se organizar num partido, de se unir à classe operária, é na verdade uma organização centrista e que os jovens sozinhos, sem a classe operária, não podem ir longe. Esse problema estava fazendo a JR “patinar” por alguns anos… crescendo e diminuindo.

Várias intervenções ressaltaram que a Esquerda Marxista e a Juventude Revolução já atuam juntas, nas ações práticas, há muito tempo e que essa unificação, esse aprofundamento da ação comum trará benefícios aos dois lados, com a força da juventude à Esquerda Marxista e a experiência dos militantes mais velhos à Juventude Revolução.

Então, por unanimidade dos delegados e por unanimidade dos observadores (com algumas abstenções de observadores vindos do Nordeste), foi aprovada a fusão da JR com a Esquerda Marxista. Agora a JR passou a ser a “Organização de Jovens da Esquerda Marxista”.

Imediatamente os jovens que ainda não eram militantes da EM começaram a se filiar e dezenas de novas integrações foram efetuadas.

Num momento em que toda a esquerda e os que se reivindicam do socialismo estão passando por rachas, perdas de militantes, decomposições diversas, essa fusão entre a Juventude Revolução e a Esquerda Marxista, demonstra que a revolução em curso na América Latina une os verdadeiros revolucionários e afasta os oportunistas e sectários.

E essa fusão se dá apenas duas semanas antes de ocorrer o Congresso Mundial da CMI (Corrente Marxista Internacional) em Barcelona, que deve decidir sobre a fusão com a Esquerda Marxista.

A compreensão mais ampla do que aconteceu neste Acampamento pela Revolução nós só adquiriremos com o tempo, mas já se faz evidente sua importância histórica para o futuro da luta de classes no Brasil.

Campanhas

Por fim, o Encontro decidiu levar adiante 4 campanhas nacionais:

– Tirem as Mãos da Venezuela: continuar a campanha internacional em solidariedade e apoio à revolução venezuelana, com debates e exibições do vídeo “No Volverán!”

– Mãos Sujas de Sangue: continuar a campanha pela retirada das tropas brasileiras do Haiti, agora com mais agitação, enchendo os muros e postes das grandes cidades com intervenções urbanas.

– A Amazônia é Nossa: campanha lançada no Acampamento, deve iniciar com elaboração de artigos sobre os planos do imperialismo para meter as mãos nas riquezas naturais da floresta e buscar organizar um encontro com jovens e trabalhadores de todos os países que abrigam a floresta amazônica em seu território.

– Passe Livre Estudantil: Retomar a construção de Comitês de Luta pelo Passe Livre e em defesa do Transporte Público.

Para cada uma dessas campanhas, a nova Coordenação Nacional da JR eleita, deverá produzir um gibi “Os Revoltados” como o que foi lançado no Acampamento, feito pelo camarada Evandro Colzani.

Para mais informações, visite o Site da JR.

Para ver vídeos e fotos, visite o Blog da JR.

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