Faleceu o cantor Peter Seeger

Morreu ontem, aos 94 anos, no Hospital Presbiteriano de Nova Iorque, o cantor folk e militante comunista Peter Seeger.

Morreu ontem, aos 94 anos, no Hospital Presbiteriano de Nova Iorque, o cantor folk Peter Seeger. Ele nasceu em 3 de maio de 1919.

O Início

Seeger foi herdeiro direto de Wooddy Guthrie, com quem trabalhou no grupo Almanac Singers, de março de 1940 até 1943, após largar a faculdade. Formou seu próprio grupo,  The Weavers, em 1948, e foi uma grande influência a Bob Dylan, Don McLean, Bernice Johnson Reagon e Joan Baez, entre outros, incluindo o famoso cantor Bruce Springsteen, que gravou um álbum com composições de Seeger em 2006, intitulado “We Shall Overcome: The Seeger Sessions” (“Venceremos: as Sessões de Seeger” – “We Shall Overcome”). O título do álbum foi extraído de uma canção composta pela defesa dos direitos civis universais e baseada em um velho hino gospel do século XIX (música sacra das igrejas frequentadas por negros no sul dos E.U.A.) onde cantava a necessidade de unidade e fim do racismo e toda discriminação nos simples versos “we will walk together, someday, black and white together, someday” (“caminharemos juntos algum dia, brancos e negros juntos, algum dia”).

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=iGxnuPk3MR4).

Seeger ficou famoso por não limitar, desde muito jovem, sua ideologia e posições políticas apenas aos palcos.

Gravou no seu famoso banjo de cinco cordas e braço extralongo, uma frase que se transformou em sua marca registada: “This machine surrounds hate and forces it to surrender” (Esta máquina cerca o ódio e força-o a render-se). Certamente inspirada em Guthrie, que tinha escrito em seu violão “This machine kills fascists” (Esta máquina mata fascistas).

A Política

Desistiu dos estudos de Sociologia em Harvard, ainda nos anos 30, influenciado por um dos seus professores que lhe teria dito: “Não pensem que vocês podem mudar o mundo. A única coisa que podem fazer é estudá-lo”.

Apoiou o movimento operário dos E.U.A.  e participou ativamente em apresentações para o movimento sindical nas décadas de 40 e 50, da campanha dos direitos civis na década de 60, nos E.U.A., em protestos contra as guerras imperialistas do Vietnã e Iraque.

Influenciado pelo pai, integrou a Liga Comunista da Juventude aos 17 anos e, aos 23, o Partido Comunista. Seu pai sairia do partido poucos anos depois, Seeger apenas na década de 50.

Sua famosa canção em parceria com Lee hays, “If I Had a Hammer” (“Se eu Tivesse um Martelo”), popularizada pelo grupo Peter, Paul and Mary (http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=_UKvpONl3No)

A composição foi tocada pela primeira vez em 1948, em um jantar em apoio aos dirigentes do PC dos E.U.A. que à época sofriam acusações de conspirar contra o governo.

Essa composição possui inclusive uma versão pouco conhecida de Victor Jara (http://www.youtube.com/watch?v=fZRarkPqqaA&feature=youtu.be), o cantor e compositor popular que cantava a liberdade dos estudantes e dos trabalhadores, até ser assassinado pelo regime hediondo de Pinochet no Chile.

Ter sido membro do PC fez com que fosse indiciado a testemunhar ante o Comitê de Atividades Anti-Americanas em 1955, assim como vários outros artistas, como Charlie Chaplin, Berthold Brecht, Leonard Bernstein, Aaron Copland, Arthur Miller, Orson Welles, Paul Robeson, entre outros. Já não integrava mais o PC.

Esse período ficou conhecido como caça às bruxas e criou uma “lista negra” que impedia aqueles nela inclusos de trabalhar. Seeger foi lista negra por recusar-se a delatar companheiros ao Congresso Americano e processado por desacato. Não podia aparecer em programas de televisão.

Como ele mesmo relatou e em uma entrevista de 1995 “ter seguido a linha do partido como um carneiro”. Esta declaração se refere a sua falta de crítica ou combate aos Processos de Moscou e toda a perseguição e eliminação, não apenas política, mas física da Oposição de Esquerda. Apenas em 2007 escreveria uma canção condenando explicitamente o estalinismo, “Big Joe Blues” (“I’m singing about old Joe, cruel Joe”).

Joe era referência ao nome adotado por Vissarionovitch Djugashvili, Josef Stalin:

“I’m singing about old Joe, cruel Joe,

He ruled with an iron hand

He put an end to the dreams

Of so many in every land

He had a chance to make

A brand new start for the human race

Instead he set it back

Right in the same nasty place”

(Eu estou cantando sobre o velho Joe, Joe cruel,

Ele governou com mão de ferro

Ele pôs fim aos sonhos

De tantos em todas as terras

Ele teve a chance de fazer

Um novo começo para a raça humana

Ao contrário, ele recolocou tudo

Bem no mesmo lugar desagradável  de antes)

Venceremos!

Tendo gravado mais de uma centena de álbuns em sua extensa carreira, declarou em uma entrevista em 2009 “Meu trabalho, é mostrar ao povo que há muita música boa no mundo, que bem usada pode ajudar a salvar o planeta.”

Em uma apresentação comemorativa dos 90 anos de Seeger, no Madison Square Garden, Bruce Springsteen o apresentou como “o arquivo vivo da música e da consciência dos Estados Unidos”, acrescentou ainda que a obra do cantor serviria como um testamento do poder da música para estimular a história.

Aqui postamos uma composição sua, que se tornou um hino anti-guerra, “Where all the Flowers Gone ?” (“Para Onde Foram Todas as Flores?”).