Epidemia!

A dengue no Rio
por Luiz Bicalho

Primeiro foi a febre amarela. Agora é a dengue. Osvaldo Cruz, que dirigiu o primeiro grande saneamento na então capital do Brasil (Rio de Janeiro) deve estar se revirando no túmulo. O Jornal O Globo de 31-03-08 mostra fotos da lagoa, do autódromo e até de um cemitério com água servindo de criadouros de mosquitos. Pobre Rio!
Quanto tempo já se passou desde que o Presidente Lula garantiu que a saúde no Brasil estava melhorando? Quanto tempo se passou desde que o governador assumiu o governo do Rio e subiu as escadas de um hospital para provar que ele, sim, daria atenção a saúde? Quanto tempo desde que o prefeito Cesar Maia declarou que a saúde no Rio vai bem obrigado? O único com saúde para dar e vender parece ser o mosquito.
Mas claro que podemos comemorar! Podemos comemorar o fim dos tiroteios, pois bandidos e policiais correm mais dos mosquitos que das balas. E se um dia um poeta – Eliakim Araújo, se não me engano – cantou a defesa da Amazônia pelo mosquito da malária, podemos agora glorificar o mosquito da dengue e da febre amarela por defender nossas crianças e adolescentes dos traficantes e das balas da polícia. Até um padre já disse a Cesar Maia que só rezar não basta. E os governantes rezam, pedem aos céus por melhores dias e melhores tempos, apelam para os anjos e para os deuses. E como estes, se existem, não estão lá muito interessados nestas coisas terrenas do dia a dia que sofre o povo, morrem crianças e velhos, morrem em hospitais, em casas e até nas barracas de campanha que monta o exercito, como se o mosquito fosse o inimigo que deve ser abatido. O que abateu a saúde do carioca e que mata seus filhos e seus avós (que as crianças e velhos são mais vulneráveis a dengue) é o descaso, a cupidez, a ignorância e a falta de um mínimo de cuidado que os governantes têm com o povo. O prefeito, o governador, o presidente, todos fingem que não é com eles, que a culpa é do outro. E vão uns e outros vivendo o seu dia a dia, brigando brigas intermináveis de disputas por verbas, espaço na TV e quem sabe por outro cargo, outro salário, outro lugar para seus filhos, irmãos, parentes e amigos (ou quem sabe seus cupinchas, mas isto já é falar com uma linguagem muito forte e eles coitados que só querem o melhor para si e para suas famílias será que merecem tanto?).
E o mosquito? Vai bem, obrigado. Manda lembranças de cada uma das poças que não foi visitada pelos mata-mosquitos que Fernando Henrique demitiu, que Lula levou tanto tempo a readmitir que quando voltaram os mosquitos já eram tantos que não cabiam mais em um fusquinha e se tinham sido exterminados em 1950, agora voltavam com força total. E o prefeito também não queria os mata-mosquitos e os dispensou e Cabral também nisto nunca pensou ou não pensou seu secretario de saúde ocupado com outras saúdes e outros afazeres para pensar nestes pobres cariocas que tanto têm que sofrer.
Sim, vai bem a economia, os lucros de bancos, industrias, comércios, grandes fazendas (o agrobusiness) vão todos muito bem obrigado. Vão bem as multinacionais que nunca lucraram tanto e nunca enviaram tanto dinheiro para o exterior. Vão bem os planos de saúde que também voltaram a lucrar. Vai bem todo mundo que explora o trabalho alheio e que deste trabalho vive, vão bem os juros que continuam os mais altos do mundo e que fazem os americanos ricos tirarem o dinheiro do dólar e aplicarem no Brasil para que o suor e o sangue brasileiro paguem juros a este americano enquanto que lá o povo vive cada vez mais miserável como vive o povo daqui. Sim, tudo vai bem, tudo vai ótimo como 2 e 2 são cinco. E o superávit primário foi o mais alto dos últimos anos e tanto gostaram os investidores. E o povo vai sofrendo. Sofrendo no trem da central cada dia mais cheio. Sofrendo no metrô nosso de cada dia cada dia mais cheio. Sofrendo e sacolejando em cada ônibus cada dia mais cheio e mais caro. E morrendo hoje de dengue esperando a dengue passar para voltar a morrer no tiroteio nosso de cada dia. Até o dia em que para passar tudo isso a revolta e a raiva se transformem em uma revolução que varra toda esta sujeira e esta lama e construa um mundo novo onde possamos viver e amar e se divertir sem ter medo de mosquitos e balas.