Epidemia, omissão do governo e falência do capitalismo

A epidemia de dengue está em expansão acelerada. Foram 1,64 milhões de casos, com milhares de internações e 863 óbitos em 2015. Esses números superam qualquer outro ano, em mais de três décadas de dengue no Brasil. Uma vez que a proliferação do mosquito transmissor (Aedes aegypti) segue descontrolada, essa expansão não deveria causar surpresa. 

A epidemia de dengue está em expansão acelerada. Foram 1,64 milhões de casos, com milhares de internações e 863 óbitos em 2015. Esses números superam qualquer outro ano, em mais de três décadas de dengue no Brasil. Uma vez que a proliferação do mosquito transmissor (Aedes aegypti) segue descontrolada, essa expansão não deveria causar surpresa. 

A situação agravou-se com dois outros vírus que também são transmitidos pelo “mosquito do medo”: o zika vírus, que tem fortes indícios de associação com a microcefalia e está aterrorizando mulheres grávidas, e a chikungunya, causadora de uma artrite com dor intensa que pode se arrastar por meses ou anos.

O drama é real, mas a resposta do governo é uma farsa. Em 350 cidades do país, 220 mil soldados do exército não fizeram mais do que distribuir panfletos para “orientar” a população. O Ministro da Economia declarou que dará continuidade ao ajuste fiscal com os cortes no orçamento, mas os recursos para atacar a epidemia serão preservados. Com isso, ele quer tranquilizar a burguesia e, ao mesmo tempo, enganar a população.

Na realidade, só em 2015 foram cortados mais de R$ 9 bilhões do orçamento da saúde. Até para distribuir panfletos, os soldados foram necessários porque a estrutura nacional de vigilância em saúde foi desmantelada com a chamada estratégia de descentralização ou municipalização. 

Sem essa estrutura não é possível realizar as ações de combate ao mosquito, com um planejamento unificado em escala nacional. O ministro não precisa fazer o corte de verbas para a vigilância agora, pois o corte já foi feito antes, e já estamos sofrendo as suas consequências. 

A “descentralização” foi completada no governo FHC, que demitiu os agentes “mata-mosquitos” da Funasa. Os governos Lula e Dilma nada fizeram para reverter esse ato criminoso contra a saúde pública. Pelo contrário, eles aderiram à retórica demagógica da autonomia e maior eficiência dos municípios. 

Essa retórica é uma cortina de fumaça para a política de privatização da saúde, com a terceirização e estímulo aos planos de saúde privados. 

Portanto, esse desastre na saúde não é fruto da incompetência dessa ou daquela fração mais estúpida da burguesia. Ele é um resultado do aprofundamento das contradições sociais do capitalismo. Cada vez mais os recursos do Estado têm que ser desviados para manter a reprodução do capital.

Essas contradições são potencializadas nos países atrasados pela debilidade das suas burguesias nacionais, que ocupam uma posição subordinada no mercado mundial. Nas Américas, na África e na Ásia, o Aedes aegypti e a dengue estão prosperando nas regiões tropicais e subtropicais. Segundo a OMS, anualmente ocorrem entre 50 e 100 milhões de casos de dengue, e este número é 30 vezes maior do que há 50 anos. 

Com a utilização da tecnologia e dos conhecimentos científicos que já existem atualmente, o combate ao mosquito deveria ser hoje mais fácil, e não mais difícil como alegam os serviçais da burguesia. É pouco divulgado que, na campanha contra a febre amarela, o Aedes aegypti já foi controlado e até erradicado no Brasil e em outros países da América Latina na primeira metade do século XX. 

Agora, o governo anuncia mais um corte na verba da saúde: R$ 2,5 bilhões. Valor correspondente ao que é gasto em dois dias com o pagamento da dívida a banqueiros e especuladores. Se as escolhas de Dilma fossem outras, o governo estaria recontratando como instrutores e monitores os antigos mata-mosquitos que foram demitidos por FHC. Estaria contratando emergencialmente pelo menos 1 milhão de pessoas para correr todas as casas, reservatórios públicos, piscinões, fontes etc. Estaria tomando medidas de controle, como lavagem, colocação de peixes que comem larvas e pulverização de inseticidas. Dinheiro para isso? Bastaria suspender o pagamento da dívida por um mês (R$ 32 bilhões) que haveria o recurso necessário. E muito mais para atender o conjunto das necessidades da população, com o não pagamento da dívida interna e externa. 

De um lado, a saúde e a vida do povo. Do outro, os banqueiros e especuladores. Quem estava certo era Lenin: “O capitalismo é horror sem fim!”