Economia do Reino Unido depois das Olimpíadas: ainda com os piores resultados

“Obrigado Senhor pelas Olimpíadas!” Deve ter sido esta a oração da maioria, senão de todos os Ministros do Tory, depois das notícias econômicas no final do mês passado.

“Obrigado Senhor pelas Olimpíadas!” Deve ter sido esta a oração da maioria, senão de todos os Ministros do Tory, depois das notícias econômicas no final do mês passado.

Eles ficaram mais do que um pouco aliviados quando os Jogos Olímpicos de Londres monopolizaram todos os jornais e continuarão assim pelo menos nas próximas semanas. No entanto, nós todos vivemos no mundo real e nesse mundo podemos ver as consequências dos poucos mais de 2 anos desta Coalizão. Estamos agora na mais longa recessão tipo “mergulho duplo” por mais de 50 anos.

Os últimos dados do Instituto de Estatísticas Nacional não poderiam ter mais limites mesmo se tentasse. A economia encolheu 0,7% entre Abril e Junho desse ano. O jornal The Independent de 26 de julho explicou onde estava a raiz deste fato: “… a maior queda trimestral da economia do Reino Unido começou no início de 2009… os fabricantes britânicos e construtores viram as recessões mais profundas por mais de três anos, mesmo com o setor de serviços dominante – representando mais de ¾ da economia – deslizando em declínio à medida que a crise da dívida da zona do euro foi minando a confiança”.

Os economistas continuam perplexos com essa realidade. Foram apresentadas desculpas, incluindo culpar o Jubileu e o mau tempo. As Olimpíadas impulsionarão os dados durante este trimestre, mas elas acabarão em breve. O problema com os economistas – da direita e da esquerda – é que eles estão obcecados com gráficos, tabelas e fórmulas. Eles estão constantemente tentando identificar ciclos e ondas para mostrar como a economia se move. De acordo com seus gráficos e tabelas, a recessão tinha acabado e o mergulho duplo não deveria ter ocorrido. Mas ocorreu. De fato, poderíamos argumentar que nunca saímos realmente da primeira recessão. Isso é apenas um mergulho duplo, como se fosse uma montanha-russa que sobe e desce, porém como parte de um longo, muito longo passeio. A conversa agora é de uma recessão de mergulho triplo.

Os marxistas têm avisado sobre essa crise por muitos anos antes dela bater à porta. Explicamos que utilizando créditos loucamente, a um grau tal que, com o fim de ampliar os mercados para realizar as mercadorias, mais cedo ou mais tarde voltar-se-iam contra eles. Marx dedicou muita atenção para o uso de créditos no capitalismo em seus escritos sobre economia, mas mesmo ele ficaria pasmo com a loucura de uma classe preparada para impulsionar uma economia já inflada a fim de agarrar mais lucro fácil.

Os patrões realmente acreditaram que o ciclo “boom e queda” tinha sido abolido, mas o sistema estava pronto para estourar nos pontos mais fracos. E acabou estourando no mercado imobiliário dos EUA e nas extremamente corruptas casas financeiras. Eles estavam vivendo um sonho de lucro infinito com pouco ou nenhum risco; a realidade não existia para eles. De pé sobre um castelo de cartas podres, a crise os atingiu antes que eles a percebessem. Embora as pessoas corretamente tenham culpado os bancos por sua ganância e estupidez, a crise é apenas um reflexo da mais profunda e fundamental crise do capitalismo mundial (veja http://www.marxist.com/the-crisis-of-european-capitalism-wp-app-1.htm para uma análise mais detalhada).

Todas as crises do capitalismo sejam quais forem seus gatilhos principais ou seus sintomas mais visíveis, em última instância podem ser reduzidas à crise de superprodução, não superprodução de coisas que precisamos, é claro (esta exigência não entraria na cabeça dos patrões), mas sim superprodução de bens de consumo produzidos para lucrar no mercado capitalista. Uma vez que os mercados foram revelados como ilusões, a crise os atingiu como uma espécie de vingança. Os créditos bancários secaram, as vendas caíram, os armazéns permaneceram com o estoque cheio de bens não vendidos e os capitalistas foram forçados a alimentarem-se uns aos outros para permanecerem navegando. Empresas faliram, pessoas foram colocadas nas ruas, os gastos caíram, uma maior quantidade de bens não foram vendidas e a espiral mortal continuou. Essa enorme super-acumulação de bens, fábricas, empréstimos, etc. não pode ser rapidamente reduzida a um nível onde as coisas possam começar a voltar ao normal, seja o que for.

Os Tories esperavam – e os economistas prometeram a eles que isso aconteceria – que as coisas já estariam no lugar agora e que o pior já estaria para trás. Eles estavam errados. Claro, o regime de austeridade teria continuado por décadas, mas ao menos a economia estaria crescendo para compensar. Ao invés disso, depois de tudo parece que a crise tem mais do que apenas um pouco de vida.

O pânico agora começou a dominar na classe dominante. Osborne está sob crescente ataque por ser “inútil”, “o chanceler mais incapaz por 50 anos” e assim por diante. Os deputados do Tory – vendo a grande vantagem do Trabalhista nas pesquisas públicas – estão sentindo o calor e uivando. Os Liberais Democratas também racharam diante da chamada para o “plano A+” para substituir os atuais planos de austeridade. A direita do partido do Tory acha que se bater em Osborne vai chegar até Cameron, o qual eles nunca perdoaram por ele não ter ganhado as últimas eleições em favor da direita. Acima de tudo, eles querem mais cortes, e não menos. Por si só, isso já é uma indicação do domínio do capital financeiro dentro dos escalões do partido conservador.

No entanto, toda a conversa sobre o plano A (enormes cortes e austeridade para reduzir a dívida do estado) e plano B (abrandar os cortes – isto é, por enquanto – para estimular a economia mantendo os gastos públicos) perde o ponto principal. Sob o capitalismo nenhuma das opções são opções para as suas crises. Eles resolvem um lado da crise fazendo o outro lado pior. É como empurrar uma ponta do navio pra debaixo d’água para manter a outra ponta acima das ondas. Ao final o navio ainda afunda.

Nesse sentido os cortes não fluem por um desejo dos Tories de martelar as massas – embora eles estejam felizes em fazê-lo – mas fluem sim da lógica do próprio capital. De fato, sob outras circunstâncias, eles ficariam bem felizes por terem mantido os gastos públicos durante a crise para manter o desemprego baixo e ajudar a proteger os assentos de seus parlamentares nas próximas eleições. Mas a ameaça da Dívida Soberana não vai cessar. Os mestres da Coalizão no mundo do capital financeiro mandaram cortar o déficit da dívida pública e assim proteger seus interesses. Eles não gostam de olhar para o que está acontecendo na Espanha, Itália e Grécia. Eles estão tremendo, sob pressão podem perder a cabeça, e mesmo assim não haverá saída. Osborne pode ser sacrificado, mas isso pouco irá mudar a realidade.

Uma coisa é certa: a classe trabalhadora continuará a ser convidada gentilmente a pagar por essa crise, aconteça o que acontecer; ao menos que façamos algo a respeito. A tarefa atual para a vanguarda do movimento é fazer vir à tona a luta por políticas socialistas e a luta para por um fim no sistema capitalista.

Traduzido por Marcela Anita