Chico Lessa junto aos trabalhadores durante movimento de ocupação de fábricas, em Joinville

Dois anos sem nosso camarada, 10 anos de intervenção: Chico Lessa e as Fábricas Ocupadas

No dia 28 de fevereiro de 2015, há dois anos, falecia nosso camarada Francisco João Lessa. Há 10 anos, abril de 2007, acontecia uma intervenção federal nas fábricas ocupadas Cipla e Interfibra.

A história das fábricas ocupadas se confunde com os últimos anos de militância de Chico Lessa. É por isso que, neste dia que lembramos o trágico acidente que deu fim a uma vida de luta e dedicação ao comunismo, damos início a publicações e textos históricos que relembram as fábricas ocupadas e, portanto, o camarada Chico Lessa.  Como dissemos na ocasião de um ano de seu falecimento, “A Esquerda Marxista tem por objetivo preservar a história desse camarada com o intuito de que ela nos sirva de exemplo.”

O período que vivemos é de muita luta e de uma necessidade gigantesca de conhecermos a história para que continuemos os combates: ‘Os militantes da Esquerda Marxista sabem que continuar o combate pelo comunismo, pela internacional operária, é a melhor homenagem que podemos prestar a este valoroso camarada.”

Para dar início a esse resgate, publicamos o último texto de nosso camarada sobre as fábricas ocupadas. Além disso, mensalmente, um texto de retrospectiva será publicado.  Em abril, data da intervenção, e julho, aniversário de 61 anos do camarada Chico Lessa, publicaremos edições especiais de nosso jornal, sobre essa luta histórica do movimento operário brasileiro e com isso podemos compartilhar do aprendizado que nos deixou Francisco João Lessa.  Camarada Chico Lessa, presente.

Texto abaixo do camarada Chico Lessa publicado em 30/10/2014.


Com a intervenção judicial a Interfibra foi fechada

Em 31 de outubro de 2002 os trabalhadores da Cipla e da Interfibra, duas fábricas do setor plástico de Joinville, ocuparam as fábricas, expulsaram os patrões e passaram a administrar os dois parques fabris que se encontravam prestes a serem fechados.

Desta data até 31 de outubro de 2007, quando foi feita a intervenção judicial nas fábricas, foram diárias as lutas e mobilizações pela manutenção dos empregos e da atividade econômica nas fábricas.

Em junho de 2003 estivemos com Lula no Palácio da Alvorada, nos dizendo que nosso pedido de estatização das empresas não estaria no cardápio, mas que faria todos os esforços para a conservação dos postos de trabalho, mas o que fez foi permitir a intervenção judicial com o aparato espetaculoso da polícia federal.

No último dia 30 de setembro de 2014 o interventor judicial, o mesmo de 31 de maio de 2007, sem qualquer aviso aos trabalhadores, fechou a Interfibra e sepultou mais de cem postos de trabalho, o que ocorreu depois da veiculação de notícias sobre o arrendamento da fábrica e de um possível leilão do parque fabril.

O que o interventor fez foi pedir a falência da empresa e despedir os trabalhadores. A rescisão contratual somente será paga após a venda da empresa em leilão, Deus saber quando, de acordo com informação prestada pelo presidente do sindicato da categoria, que nada fez para resistir, como de hábito.

A responsabilidade direta por este ato de desprezo e desrespeito com os cerca de cento de trinta funcionários e suas famílias é da Justiça Federal de Joinville, que patrocinou a intervenção judicial-militar de 31/5/2007, assim como do interventor nomeado pelo Judiciário.

A respeito ainda das responsabilidades, é preciso esclarecer que também é responsável pelo fechamento da fábrica e pelo corte dos empregos as autoridades federais, que na época da intervenção e antes dela, deixaram de atender ao pedido de estatização da empresa, providência que manteria de forma duradoura a atividade econômica e os postos de trabalho.

Por outro lado, com o fechamento da Interfibra quem tem que abrir os olhos são os trabalhadores da Cipla, cerca de duzentos e cinquenta, já que a mesma intervenção judicial ocorreu na empresa e o mesmo interventor é que ainda anda por lá.

Somente a organização independente dos trabalhadores, a sua mobilização, é que poderão manter o parque fabril em atividade e a manutenção dos empregos, principalmente nesse momento em que a economia dá sinais precisos de grave crise.

O capitalismo é selvagem, o Poder Judiciário e o interventor, sem qualquer preocupação com os empregos e vida do trabalhador: precisamos de uma nova sociedade onde as fábricas estejam nas mãos daqueles que produzem e o poder com a maioria.

Somente o socialismo pode ser uma alternativa à barbárie.