Depoimento de Lula: um judiciário fora da lei e mais conciliação de classes

A Lava Jato segue com suas ações pirotécnicas e, por fim, levou o ex-presidente Lula para prestar depoimento das acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. Como já falamos antes essa operação nada tem a ver com a erradicação da corrupção, mas com uma “faxina” para tentar estabilizar a crise política.

O confronto entre Lula e Moro era esperado desde setembro, quando o Procurador que coordena a Lava Jato, Deltan Dellagnol, apresentou publicamente seus slides com a denúncia e os esquemas que seriam coordenados por Lula. A denúncia baseada na convicção da culpa dos envolvidos foi fruto de piadas e críticas até mesmo da direita. Dessa vez não foi muito diferente, embora a direita mais raivosa estivesse ansiosa pelo depoimento, um dos seus representantes, o jornalista Reinando Azevedo escreveu poucas horas após iniciar o depoimento: “Se o juiz não lacrou, então está lacrado” (Reinaldo Azevedo, veja.abril.com.br/blog/reinaldo). De certa maneira Azevedo antecipava o que estava por vir.

Do lado de fora milhares de pessoas se reuniram na Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, em apoio a Lula. Nós não participamos desse ato, pois não estamos em defesa de Lula individualmente, muito menos de sua política.

Por outro lado, o que vale ressaltar é que a direita estúpida foi incapaz de reunir mais do que 200 pessoas. Alguns justificam que atenderam ao pedido de Moro de não ir às ruas, mas mesmo Azevedo desabafa em seu blog “nós sabemos que Moro não desmobilizou o que mobilizado não estava”.

O fato é que o depoimento de Lula arrastou milhares de pessoas até Curitiba, foi coberto por quase todos os meios de comunicação nacionais e internacionais que, com a ajuda de Moro, transformaram o dia de ontem em mais um comício da campanha de Lula 2018. A truculência e os abusos da operação Lava Jato são os principais cabos eleitorais de Lula, promovem o homem e abrem o caminho para conter os ânimos das massas. E Lula surfa nessa onda como o grande apaziguador, aquele que pode agradar a todos e deixa isso evidente ao encerrar sua fala no ato no centro de Curitiba: “Eu não quero afrontar ninguém, eu sou um cidadão que respeita as leis, respeita a constituição, respeita a justiça. A única coisa que eu peço em troca é que eles me respeitem como eu respeito eles.” (Lula, Praça Santos Andrade, 10/05/17).

Em seu discurso após o depoimento, Lula afirma que nunca ninguém no país foi tão perseguido quanto ele. Não há dúvidas que se trata de um julgamento político, não de Lula, mas de que os trabalhadores no poder não podem dar certo. O objetivo não é linchar Lula, é destruir as organizações de esquerda, criminalizá-las. O impeachment de Dilma deu sobrevida ao PT e seus dirigentes, mas não podemos ter ilusão em qual será o papel que Lula vai ocupar se reassumir a presidência da república, será para garantir a lei e a ordem, será para aplicar os mesmos planos de Temer. Ainda assim não podemos tolerar a maneira como o judiciário tem conduzido as supostas investigações. Um judiciário totalitário que acusa, julga e prende com base em domínios do fato, delações premiadas, convicções e provas que se desfazem no ar. Além do mais, se alguém deve julgar Lula, como ele mesmo afirma em seu discurso, não é o judiciário burguês, mas a classe trabalhadora e todos aqueles que o apoiaram na esperança de mudança verdadeira na vida do povo e foram traídos pela política aplicada em todos os anos de governo de conciliação de classe do PT com a burguesia.