Das senzalas para as fábricas, a opressão continua

Com o fim oficial da escravidão, venceu-se o chicote e o tronco do feitor. Contudo os negros não tinham terras nem propriedades. O que restava a eles era vender sua força de trabalho para os mesmos latifundiários que antes os escravizavam, nas fazendas ou nas fábricas.

Foto: Tronco usado para violentar escravos no Engenho do Livramento, no município de Redenção, em Fortaleza

Com o fim oficial da escravidão, vencemos o chicote e o tronco do feitor. Contudo os negros não tinham terras nem propriedades no fim da escravidão. O que restava a eles era vender sua força de trabalho para os mesmos latifundiários que antes os escravizavam, nas fazendas ou nas fábricas. Qualquer que fosse o caso, os negros eram tratados como inferiores, uma vez que houve mais de 300 anos de escravidão e a ideologia da classe dominante (o racismo) tratava de reforçar esta visão.

Dessa forma, o chicote foi sendo trocado (lentamente) por longas horas de trabalho, abuso de poder, assédio moral, violência física legitimada pelas forças repressivas e todo tipo de opressão. A repressão do chicote foi trocado pela exploração inerente ao capitalismo e à existência a classe trabalhadora capitalista.

Podemos citar como exemplo as³ perseguições que eram feitas aos sambistas. Essas investidas repressivas tinham a autorização do Estado. Toda essa violência tinha como objetivo manter os trabalhadores negros numa situação de submissão, para que eles não se rebelassem e, mais uma vez, decidissem se insurgir contra os “senhores”.  Dessa forma a luta do movimento negro ainda é anti-racista, por liberdade, uma liberdade radical, que só poderá ser conquistada com a derrocada final do capitalismo e todos seus instrumentos de submissão.

É por esse motivo que a burguesia hoje investe tanto em criar formas de dividir o movimento negro, por dentro dele mesmo. Para isso, fingem combater as discriminações raciais ao mesmo tempo que continuam violentando os corpos e mentes de negros. A ONU, por exemplo, faz campanhas contra o racismo, fingindo estar ao lado dos negros e negras, enquanto que suas tropas da paz assassinam e estupram adultos e crianças negras no Haiti e na África. 

Educação para todos: da pré-escola à universidade

Isso acontece porque a opressão e a exploração são a espinha dorsal do capitalismo. É por esse motivo que os marxistas lutam ao mesmo tempo contra o racismo e o capitalismo, afinal eles são duas faces da mesma moeda. Por este motivo, todas as lutas anti-racistas devem ter como fim a derrota do sistema que sempre nos perseguiu. Todas as pautas do movimento negro devem ter como fim a derrota do capitalismo. As lutas pelos direitos mais básicos ensinarão as pessoas a se organizarem contra esse sistema que torna os direitos humanos mais básicos parecerem um privilégio, como é o caso da educação – da  pré-escola à universidade.

Nós defendemos a universalização do ensino superior como única alternativa real que permitirá o acesso das massas (pobres, negros e não negros) à educação.  A situação das cotas, no Brasil e nos EUA, mostra a realidade desta política. A maioria continua pobre e fora da universidade, enquanto se cria uma “elite negra” para controlar e reprimir a maioria.

No próximo Enem, são mais de 8 milhões de inscritos enquanto o número de vagas em universidades públicas é 230 mil. Ou seja, menos de 3% dos que fazem o Enem entrarão em uma universidade pública. E os que entram, quando são pobres, tem dificuldade em terminar o curso. Falta dinheiro para comer, para o transporte, para os livros.

A solução é investir mais em educação pública, até que tenham vagas, gratuitas e para todas as pessoas, da creche à pós-graduação. Dessa maneira, o número de negros com ensino superior aumentaria significativamente, e nós negros não teriamos de passar todo tipo de dificuldade para se formar, ainda mais quando sabemos que a maioria dos negros está no ensino particular, sofrendo muito para pagar as altas mensalidades. Caso contrário, cursar a universidade vai sempre parecer um privilégio, quando na verdade é um direito de todos.

Serviço público e gratuito. Abaixo a repressão!

Defendemos saúde pública, gratuita e para todos, assim como defendemos que todos devem ter acesso a transporte, moradia, emprego, esporte e lazer. Afinal, são os negros que recebem os piores atendimentos desses serviços, uma vez que compõe as parcelas mais pobres da sociedade.

Para nós, é muito importante também falar da violência contra a juventude. Por ano, morrem cerca de 30 mil jovens assassinados. Esses jovens são, em sua maioria esmagadora, negros, filhos da classe trabalhadora das periferias urbanas e também das periferias rurais. Essa juventude é obrigada a viver com armas apontadas para sua cabeça, seja da polícia racista, seja do crime organizado ou das milícias e coronéis.

Outra arma contra a juventude são as drogas, que escravizam e destroem os corpos e mentes de nossos jovens. Não podemos aceitar que jovens sejam mortos diariamente, e nem que seus corpos sejam encarcerados – seja pelas drogas, seja pelas cadeias. Nos morros e favelas, o jovem, especialmente a juventude negra, é oprimido pela polícia, pela milícia e pelos traficantes. Somente nossa organização independente poderá garantir o seu futuro e a sua liberdade.

Queremos uma juventude que lute pela sua liberdade e que tenha liberdade para lutar. Queremos a liberdade plena de toda classe trabalhadora.

– Pelo fim da violência a juventude. Liberdade para lutar, lutar pela liberdade.

– Nem polícia, nem tráfico, nem legalização das drogas! Liberdade para a juventude.

– Educação pública e gratuita para todos; da creche à pós-graduação! Nenhum negro fora da escola ou da universidade, nenhum negro sem saúde, cultura, esporte e lazer.

– Paz entre nós, guerra aos senhores!