Crônicas de fim de ano (2): o pântano da colaboração de classes

Enquanto a crise e os ataques à classe trabalhadora seguem. As direções do movimento operário se empenham na defesa do governo e afundam no pântano da colaboração de classes.  

O Natal chegou mais cedo para milhões de trabalhadores com um amargo presente. Alguns ganharam o desemprego, como os 3 mil trabalhadores demitidos de um estaleiro que fechou no Rio de Janeiro. No ano de 2015, foram mais de 1 milhão de postos de trabalho fechados. Para outros o presente foi não receber o 13º salário, caso de milhões de funcionários públicos.

As manifestações do dia 16 tiveram o tom predominante de defesa do governo Dilma. O impeachment organizado pela direita não resolve nada para a classe trabalhadora, ao contrário, algo pior seria colocado no lugar. Mas nós não saímos às ruas em defesa desse governo indefensável, numa situação em que a burguesia, majoritariamente, não está de acordo com o perigoso e nebuloso caminho do impeachment.

A votação do STF ontem, contrariando os encaminhamentos dados por Cunha e favorecendo o governo, evidencia que a burguesia segue majoritariamente contra a retirada antecipada desse governo.

Enquanto isso, o aparelho judicial e policial aumenta o seu poder e abre fogo contra o PMDB. O aliado do PT de segundo governo, o aliado de todos os governos nos últimos anos, o PMDB que mantém o seu balcão de “fazemos qualquer negócio”, agora decide impedir a filiação de novos deputados (não por ideologia, mas por disputa de poder interna), e é atingido pelas ações do Lava-Jato. Esta operação que lava devagar e segue com o objetivo central de desmoralização e destruição do PT. Enquanto isso, nas manifestações, o pedido de Janot para tirar Cunha do Congresso é festejado.

Neste meio tempo o Brasil perde mais um grau de investimento e começa a propaganda de que é necessário pedir um empréstimo ao FMI (e, claro, submeter-se ao seu programa de ajustes, particularmente atacando a Previdência Social e o Salário Mínimo). O Ministro da Fazenda, Levy, já está de saída e a voz rouca dos burocratas sindicais pode comemorar mais esta vitória, enquanto Dilma procura um novo substituto nas fileiras da burguesia.

A burocracia sindical da CUT acerta um programa (“Compromisso para o Desenvolvimento”) para salvar o Brasil com os empresários, tendo como primeiro objetivo permitir que as empresas que foram denunciadas em todos estes esquemas fraudulentos, voltem a funcionar. Os defensores do tripartismo argumentam: não é isso! E nós respondemos, seguindo o conselho de Lenin: vocês, senhores, têm a liberdade para cair no pântano da conciliação de classes, mas larguem-nos a mão, não nos agarrem (…) porque também nós somos “livres” para ir aonde nos aprouver, livres para combater não só o pântano, como também aqueles que para lá se dirigem!”

Nós, os comunistas, propomos uma saída para a crise: lutar pela economia planificada, a começar estatizando, sob o controle dos trabalhadores, todas as empresas falidas, as empresas que demitem em massa, os bancos, as empresa metidas em todas estas negociatas.

Enquanto as camarilhas brigam, o povo está sofrendo com a inflação, com o desemprego e procurando ver como se salvar do desastre anunciado. O que esperam do tal impeachment? No Estadão, um colunista, José Roberto de Toledo (OESP, 17-12-15, pag. A6), pediu uma pesquisa ao IBOPE sobre como seria recepcionado pelo povo um governo Temer.

A resposta: 40% acham que o governo Temer seria ruim ou péssimo, 13% seria ótimo ou bom, 31% regular e 16% não souberam dizer. Ou seja, Temer começaria praticamente no ponto atual de popularidade de Dilma. Mais ainda, 43% acham que o governo Temer seria igual ao de Dilma, 24% que seria pior e somente 23% acham que melhoraria. 10% não souberam responder.

Esta pesquisa mostra o sentimento da maioria: não existe expectativa de saídas positivas para a situação atual. Esta é a principal constatação. E isso só poderá ser resolvido não por manifestações de “Fora Cunha, Fica Dilma” ou “Fora Levy” (que já está indo). Só poderá ser respondido por uma política clara que aponte uma nova perspectiva, muito longe da sujeira e da lama produzidas pelo capitalismo, seja no Rio Doce ou derramando-se no Congresso Nacional. Uma saída que diga que o povo tem o direito de decidir o seu destino, reunido em Assembleias Populares, que convoquem uma Assembleia Popular Constituinte, abrindo caminho para varrer essas podres instituições capitalistas e avançar na construção do socialismo. Para sair da lama, é preciso audácia. E isto falta aos reformistas que só conseguem enxergar os burocratas e seus movimentos, esquecendo-se que os operários demitidos do Rio saíram às ruas sem que nenhum sindicato os convocasse. E, ao contrário dos tempos heroicos da CUT, seus dirigentes só ficaram sabendo disso pelos jornais e, talvez, pensem que a única saída é telefonar para o patrão e discutir como ir ao governo pedir mais dinheiro para não demitir 3 mil, mas somente 2 mil.