Continuar a campanha “Fora PM da USP”

 
Um balanço e algumas lições das eleições para o DCE
Na USP (maior universidade da América Latina, com mais de 80 mil estudantes) todos acompanharam as eleições para o DCE nos últimos dias. A chapa “Não vou me adaptar” (PSTU + algumas correntes do PSOL) venceu com 6.964 votos. Mais da metade do total de votantes (13.134). A chapa apoiada pelo então reitor Rodas, a “Reação” ficou em segundo lugar com 2.660 votos (20% do total de votantes). Em terceiro lugar, a chapa “Universidade em Movimento” (composta por outras correntes do PSOL que não concordaram em entrar na chapa com o PSTU) obteve 2.579 votos. As outras duas chapas tiveram votação bastante inexpressiva. A chapa de ultra-esquerda “27 de Outubro” (LER-QI + MNN + PCO + POR) obteve apenas 503 votos e a chapa impulsionada pela CNB (corrente petista orientada por Lula) obteve só 254 votos. Que balanço e lições podemos tirar desses resultados?

Em primeiro lugar é preciso ter alguns elementos. Na véspera das eleições havia uma angústia generalizada entre os estudantes atuantes no movimento que avaliavam, não sem razão, que a chapa de Rodas poderia vencer as eleições, já que a “esquerda” estava dividida em várias chapas – diga-se de passagem, com programas bastante parecidos na essência. Nós, da Esquerda Marxista, que não inscrevemos chapa em 2011 porque ainda estávamos começando a nos construir no Movimento Estudantil da USP, explicamos várias vezes em vários panfletos e artigos, que se fazia necessária a frente única de todos os estudantes, todas as forças políticas que atuam no ME da USP, pela retirada da PM do Campus. E este acordo de frente única deveria ser a base para a construção de uma chapa única dos que estivessem por isso, contra a chapa da reação.
Apesar do resultado final das urnas fazer parecer difícil que a chapa reacionária triunfasse, de fato existia essa possibilidade. O discurso da “Reação” de que a PM no Campus serve para garantir a segurança no interior da Cidade Universitária dialogava com uma grande camada de estudantes mais despolitizados, que têm ilusões nas instituições burguesas, na polícia, etc. e que são na verdade maioria na USP. Entretanto é uma maioria, que inclusive por ser despolitizada, não participa de eleições para o DCE. A “Reação” conseguiu atrair às urnas pouco mais de 2.500 desses estudantes para votar, mas poderia ter conseguido mais e isso teria sido um grande problema. Na véspera das eleições a “Reação” entrou em crise, perdeu seu principal quadro (o chamado “Malufinho”) e logo depois no CCA, um representante deles declarou publicamente que a chapa havia rompido com o Rodas. Mesmo assim eles conseguiram 20% dos votos. É uma porcentagem bastante alta para um programa reacionário como o que eles defendiam.
Por outro lado, os estudantes que querem a PM fora do campus olhavam para as outras 4 chapas e repudiavam a divisão. Os estudantes desde o início ansiavam por uma unidade estudantil, um movimento unitário que pudesse impor uma derrota a Rodas e Alckmin. E esse movimento unitário deveria se expressar numa chapa unitária para impor uma derrota à “Reacão”. Na falta de uma chapa unitária da esquerda, a maioria dos estudantes decidiu concentrar seus votos na chapa que parecia ter mais chances de vencer a “Reação”.
Isso se deu favoravelmente à “Não vou me adaptar” em parte porque havia uma avaliação inclusive entre as próprias outras chapas de que esta chapa tinha mais chances de vencer por conta de ser composta por organizações que são mais numerosas hoje na USP. Inclusive o MNN rompeu com a chapa “27 de Outubro” e declarou apoio crítico à chapa “Não vou me adaptar” 10 dias antes das eleições, num movimento tardio e estúpido, que deveria ter sido empenhado no ano passado, antes das inscrições de chapa. Por outro lado, durante os dias de eleição, militantes da chapa “Não vou me adaptar” passavam nas salas de aula fazendo um verdadeiro “terrorismo psicológico” dizendo que a “Reação” estava na frente e que se todos não votassem neles a direita triunfaria.
Ainda um último elemento que explica não só o êxito da chapa “Não vou me adaptar” como a baixa votação da chapa “27 de Outubro” é a postura de cada um desses componentes no ME no último período. Se é fato que quando o movimento experimentou um afluxo em Out/Nov de 2011, as propostas (greve imediata, continuidade da greve) defendidas pelos militantes da chapa “27 de Outubro” derrotaram as propostas dos militantes da chapa “Não vou me adaptar”; E se também é fato que nas eleições para o Comando de Greve no ano passado a chapa “27 de Outubro” teve mais êxito que sua adversária, por que isso se reverteu tão drasticamente nas eleições para o DCE agora em 2012?
O discurso mais moderado da chapa “Não vou me adaptar” e também da chapa “Universidade em Movimento” (que conseguiu 5 vezes mais votos que a chapa “27 de Outubro”) se estava equivocado no final do ano passado – e por isso foi superado pelas propostas mais radicais – no início de 2012 dialogava mais com a consciência do movimento, que havia refluído, enquanto que os ultra-esquerdistas mantinham um discurso radical que não encontrava mais eco em nenhum curso.
O exemplo mais evidente disso foi na primeira assembléia geral do ano, quando depois de anunciados os resultados de todas as assembléias de curso que haviam decidido pelo fim da greve, os militantes da chapa “27 de Outubro” propunham que a assembléia geral decidisse pela continuidade da greve e refizesse as assembléias de curso. Este é o tipo de comportamento de quem está cego para os fatos concretos, não entende nada da psicologia das massas e pretende que a realidade se encaixe em seu esquema idealista. Esse tipo de postura só deu mais força à chapa “Não vou me adaptar” que acabou angariando muitos dos votos de estudantes que no final do ano passado votavam nas propostas mais radicais apresentadas por membros da chapa “27 de Outubro”.
A lição que todos podemos tirar é que o conjunto do movimento anseia por unidade para derrotar a política da Reitoria/Governo. Provocar a divisão por disputa de poder no interior do movimento só enfraquece nossa luta. Na ausência de uma chapa unitária, o movimento praticamente impôs a unidade votando na chapa que parecia ter mais chance. Só isso explica mais de 50% dos votos na chapa vencedora. Os estudantes da USP deram uma lição a todas as seitas políticas que atuam no ME e circunstancialmente algumas delas estão no DCE agora.
Rodas substituído, a PM continua no campus: Que fazer?
Logo após as eleições para o DCE, o Governador Alckmin nomeou Rodas para o Conselho da FAPESP e recolocou Suely Vilela na reitoria da USP. Isso nada muda. A motivação de Alckmin para esta troca pouco importa. Ele tirou uma peça que estava bastante desgastada na comunidade universitária e trocou por outra para aplicar a mesma política, inclusive mantendo a PM no Campus. Os reitores de Alckmin representam claramente os interesses privados dentro da universidade e querem estabelecer sua hegemonia à força. O movimento estudantil e o movimento sindical dos funcionários e professores devem se constituir na ponta de lança dos interesses públicos no interior da universidade. Nesse sentido é preciso que o movimento avance e supere a noção de público como aquilo que é de propriedade coletiva, mas controlado por cargos estatais que nada mais são do que agentes do capital travestidos de funcionários públicos – afinal o que é o Rodas ou a Suely?
É preciso avançar para o conceito de “Universidade Pública sob o controle dos professores, funcionários e estudantes”. Para tal urge uma Estatuinte Soberana construída de tal forma a fazer o mais amplo debate em toda a universidade. Entretanto, para isso a tarefa imediata é expulsar a PM do Campus. Não é possível realizar uma estatuinte democrática numa universidade ocupada militarmente, onde a polícia a mando da reitoria age como repressor social e ideológico.
O novo DCE empossado tem o dever de colocar todos os seus esforços e recursos para organizar o debate dentro da universidade, buscando ganhar o conjunto dos estudantes e a maioria dos professores para a campanha “Fora PM”. E assim que houver condições, nova greve deverá ser deflagrada. Mas é preciso ter senso de proporção! O movimento refluiu. Agora não é hora de gritar “GREVE, GREVE, GREVE”. É hora de debater, explicar pacientemente, construindo as bases para uma greve forte e outras medidas de luta. Somente um movimento amplo poderá impor a retirada das tropas da USP. Chamamos todos estudantes que concordam com nossa avaliação a conhecer a Esquerda Marxista, corrente do Partido dos Trabalhadores.

 

Célula da Esquerda Marxista da USP

 

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