Congresso da UNE: cresce a oposição de esquerda

De 3 a 7 de junho foi realizado o 54º CONUNE (Congresso Nacional da UNE – União Nacional dos Estudantes) que reuniu mais de 4 mil delegados e 8 mil estudantes em Goiânia para discutir os rumos da entidade e eleger uma nova direção para os próximos 2 anos. No primeiro CONUNE após as jornadas de junho de 2013, a Oposição de Esquerda demonstrou que pode se tornar o desaguadouro da insatisfação juvenil dentro da UNE no próximo período, e assumir a direção da entidade no próximo CONUNE, colocando-a de volta sob controle dos estudantes.

De 3 a 7 de junho foi realizado o 54º CONUNE (Congresso Nacional da UNE – União Nacional dos Estudantes) que reuniu mais de 4 mil delegados e 8 mil estudantes em Goiânia para discutir os rumos da entidade e eleger uma nova direção para os próximos 2 anos. O primeiro CONUNE após as jornadas de junho de 2013 foi marcado pela luta contra o ajuste fiscal do Governo Dilma-Temer que corta verbas da educação; e contra a redução da maioridade penal.

Desde a eleição de delegados que teve início no fim de março nas universidades, o atual grupo dirigente da UNE (a UJS, braço jovem do PCdoB) se viu obrigado a fazer um discurso mais à esquerda, para dialogar com uma base mais radicalizada em relação aos congressos anteriores a junho de 2013.

Com a tese “Abre Alas”, a UJS criticava o ajuste fiscal e não ousava defender o governo Dilma nas portas de faculdade Brasil afora. Depois de eleitos os delegados, aí enquadrou a intervenção dos estudantes sob seu controle na defesa do Governo. Para tal, se valeu da análise de que existe uma “onda conservadora” no Brasil, uma ameaça iminente de golpe da direita. Para coroar esta política, no 4º dia do CONUNE, realizou um ato “em defesa da democracia e por mais direitos”, com a presença de Guilherme Boulos (MTST), que busca dar cobertura ao Governo com um discurso contra a direita.

Coube ao PPL (Partido da Pátria Livre), antigo MR8 e ex-integrante do PMDB, mais conhecido como “Mutirão” nos congressos estudantis, fazer o papel de pseudo-direita, puxando a palavra de ordem “Fora Dilma”. Não teve eco entre os quase 8 mil estudantes presentes. Por outro lado, correntes petistas e a direção do PCdoB, em resposta, puxaram a palavra de ordem “Olê, olê, olê, olá! Dilma, Dilma!” que também não pegou. A maioria esmagadora dos estudantes, inclusive a base da UJS, não ecoou o canto pró-Dilma.

Coube à Oposição de Esquerda (bloco de forças políticas, teses e movimentos) chamar as palavras de ordem pelas reivindicações estudantis, contra os cortes, o ajuste fiscal e por mais democracia na entidade. Com uma linha política antigovernista, mas sem ser sectária, a Oposição de Esquerda pôde dialogar com a maioria dos estudantes presentes preocupados com a educação e o futuro do país.

A nova direção eleita

Na plenária final, a vencedora com 2.367 votos foi a chapa “O movimento estudantil unificado contra o retrocesso em defesa da democracia e por mais direitos”, composta pela “Abre Alas” (UJS), “Paratodos” (CNB-PT) e “Kizomba” (DS-PT).

Em segundo lugar, com 724 votos ficou a chapa “Campo popular que vai botar a UNE pra lutar”, composta pelo “Levante Popular da Juventude” (Consulta Popular), “Reconstruir a UNE” (AE-PT), “O Estopim” (MS-PT), “Quilombo” (EPS-PT) e “UNE é pra lutar” (OT-PT).

Em terceiro lugar ficou a chapa da “Oposição de Esquerda”, com 704 votos, composta por “Juntos!” (MES-PSOL), “Rebele-se” (PCR), “RUA” (Insurgência-PSOL), “Jsol” (APS-PSOL), “Vamos à Luta” (CST-PSOL), “Público, Gratuito e Para Todos” (Esquerda Marxista), “Domínio Público” (DP-PSOL), “Unidos para Lutar” (CST-PSOL), “Juventude Comunista Avançando” (PCLCP) e “Construção” (LSR-PSOL). O PCB retirou sua chapa e chamou voto na Oposição de Esquerda, embora não a componha.

Em quarto lugar, com 242 votos, ficou a chapa “Contra os cortes. Coragem para lutar”, composta por “Mutirão” (PPL), “Reinventar a UNE” (PDT) e “JSB” (PSB).

Em último lugar, com 34 votos, ficou a chapa “Eu acredito que você vai gritar junto”, composta pelo PMDB e PSDB.

A predominância da UJS com seus mais de 2 mil delegados não se dá por conta de um convencimento político de suas posições, mas por conta da imensa máquina de eleger delegados que desenvolveram ao longo dos anos, baseada em fraudar processos de eleição e promover o CONUNE como um espaço de festa, despolitizado. Para levar os estudantes das universidades onde elegem seus delegados, a UJS vende o CONUNE como “o maior festival estudantil da América Latina”. Mas a radicalização da juventude a partir de junho de 2013 tem imposto limites a esta política, que está com seus dias contados.

Já o “Campo Popular”, que na plenária final era visivelmente menor do que a Oposição de Esquerda, busca fazer uma oposição moderada, despolitizada à atual direção da UNE. Não podem politizar a discussão, porque na verdade só querem disputar o aparelho. Na política, defendem as mesmas coisas. Tanto é que na votação mais importante da plenária final – resolução sobre conjuntura – o Campo Popular retirou sua proposta e chamou voto na proposta da UJS. Isso levou a um enorme mal-estar em sua base. Visivelmente os delegados identificados com o Campo Popular não levantaram seus crachás para votar a favor da proposta da UJS, que se furta a enfrentar de fato a política do governo federal. Nos corredores, corria o boato de que este foi o preço que a direção do Campo Popular teve que pagar para receber cerca de 50 votos da UJS na eleição das chapas, para garantir seu lugar à frente da Oposição de Esquerda.

O combate para construir e fortalecer a Oposição de Esquerda na UNE

A tese “Público, Gratuito e Para Todos”, impulsionada pelos militantes da Esquerda Marxista, levantava a necessidade da retomada da Carta de Princípios do Congresso de Reconstrução da UNE (1979), que trazia a luta por educação pública, gratuita e para todos como um princípio. Os demais componentes da Oposição de Esquerda compreenderam a importância deste combate e adotaram esta linha em suas propostas de resolução. Com isso, levamos um número muito mais amplo de estudantes a levantar no CONUNE a bandeira da retomada da luta por vagas para todos nas universidades públicas.

Na resolução sobre educação, a partir da discussão feita pela nossa tese, a Oposição de Esquerda não se colocou em defesa das cotas raciais, mas sim de que todos os jovens negros tenham acesso à universidade, que haja vagas para todos nas universidades públicas, sem necessidade de vestibular ou qualquer sistema exclusório e meritocrático. Este é um grande avanço!

Na resolução de Movimento Estudantil, a proposta da Oposição de Esquerda trazia pontos importantes como o de realizar um dia nacional de luta em 17 de junho (lembrando os 2 anos das jornadas de junho), uma greve geral das universidades federais (que estão fechando cursos e departamentos diante do corte de verbas), a criação de um comando nacional de mobilização com representantes eleitos em assembleias locais nas universidades e um extenso plano de lutas. Porém, também trazia um equívoco: eleições diretas para presidente e direção da UNE.

Como estava escrito em nossa tese: “Não queremos mais democracia burguesa! Queremos democracia real! A democracia direta das assembleias do povo nas ruas! A democracia criada pelo povo sofrido em sua história, desde a Comuna de Paris! E neste sentido, não podemos concordar com a proposta de alguns setores da Oposição de Esquerda de lutar por “eleições diretas para presidente e direção da UNE”. Não derrubaremos a atual direção da entidade piorando as regras do jogo, deixando-as menos democráticas. A direção da UNE deve ser eleita no congresso, a partir da discussão das propostas de cada chapa. Esta é a forma mais democrática! O que deve mudar é a forma de eleger os delegados nas universidades. Estes devem ser eleitos em assembleias com base numa rica discussão que levante todas as reivindicações locais e os mandate a levá-las ao Congresso Nacional dos estudantes. Num processo assim, todos os delegados estarão de fato representando os estudantes que os elegeram e não haverá mais a situação atual das eleições diretas onde os estudantes nem conhecem os delegados e as propostas por eles defendidas.”

O que deve mudar é o formato do congresso. Ao invés de os delegados se verem obrigados a votar propostas de texto em bloco, um contra o outro, deveriam ter o direito de eleger uma tese guia e depois apresentar emendas a este texto, que seriam submetidas a voto do plenário, uma a uma. Com a votação de cada emenda pontual é que a discussão política se daria de verdade. Hoje, com as votações feitas em bloco, o que ocorre é uma guerra de torcidas, esvaziada de qualquer discussão política. A eleição da direção deve ser congressual sim, mas o congresso deve ser democratizado.

Os delegados eleitos pela tese “Público, Gratuito e Para Todos” decidiram votar criticamente nesta proposta de resolução da Oposição de Esquerda, entendendo que o único equívoco era absolutamente secundário no texto que continha as propostas mais avançadas em discussão no CONUNE para a luta dos estudantes. Queremos prosseguir com todos os componentes da Oposição de Esquerda a discussão sobre a democratização da UNE.

Se a Oposição de Esquerda mantiver firme esta linha política de combate, exigindo vagas para todos nas universidades públicas e o fim do pagamento da dívida interna e externa, sem ceder às pressões reformistas de lutar “pela regulamentação do ensino pago”, poderá se tornar o desaguadouro da insatisfação juvenil dentro da UNE no próximo período, e assumir a direção da entidade no próximo CONUNE, colocando-a de volta sob controle dos estudantes.

Com algumas dezenas de delegados, a nossa tese dentro da Oposição de Esquerda conseguiu eleger um diretor da UNE – posto que certamente será usado para fortalecer as lutas estudantis em todos os cantos do Brasil.

Vídeos da campanha “Público, Gratuito para Todos” sobre a participação da delegação da campanha no 54o CONUNE:

 

54º CONUNE – Público, Gratuito e Para Todos

Ou a UNE entra em sintonia com a nova situação política ou será atropelada pela história. A Luta de Classes segue, Junho de 2013 foi só o começo. Amanhã vai ser maior! Assista em HD

Posted by Público, Gratuito e Para Todos on Sábado, 30 de maio de 2015

 

Assista ao vídeo de parte da delegação da campanha “Público, Gratuito e Para Todos” chegando ao 54º CONUNE.

Posted by Público, Gratuito e Para Todos on Sexta, 5 de junho de 2015

 

Intervenção da delegação da campanha “Público, Gratuito e Para Todos” no terceiro dia do 54º Conune. Confira!

Posted by Público, Gratuito e Para Todos on Sábado, 6 de junho de 2015

 

Público, Gratuito e para Todos – Quarto dia do 54º CONUNE

Depoimento de Gabriel Pinho, estudante da Universidade Católica do Salvador – BA, delegado pela campanha Público, Gratuito e Para Todos, sobre o quarto dia do 54º Congresso da UNE, início das Plenárias Finais.

Posted by Público, Gratuito e Para Todos on Segunda, 8 de junho de 2015

 

Plenária Final do 54º CONUNE

Intervenção e análise dos militantes da campanha “Público, Gratuito e Para Todos” na Plenária Final do 54º Congresso Nacional da UNE.

Posted by Público, Gratuito e Para Todos on Segunda, 15 de junho de 2015