Foto: Johannes Halter

Conferência da EM discute conjuntura, perspectivas e tarefas

Aconteceu no último domingo (23/4) a Conferência Nacional da Esquerda Marxista 2017, em Barra do Sul, Santa Catarina. Assim como os dois dias de Escola de Quadros que aconteceram nos dias 21 (Confira)  e 22 (Confira), o centenário da Revolução Russa permeou os debates. Participaram militantes delegados de todo o país e convidados, nacionais e internacionais.

Foi discutida a situação política mundial e do Brasil, bem como as tarefas da EM para o próximo período. Também foram avaliadas as discussões internas provocadas por um grupo fracional no período de preparação à Conferência. O resultado do rico debate que se estabeleceu antes e durante a Conferência está expresso na Resolução Final da atividade. A política expressa neste documento e a certeza da necessidade de continuar a batalha pela construção de um partido de classe e de massas foram unanimidade entre os presentes.

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O camarada Fred Weston, membro do Secretariado Internacional da CMI, esteve presente, assim como militantes da Grã-Bretanha e da Argentina. Ele ressaltou que a tarefa da EM segue sendo construir uma forte corrente marxista no Brasil como parte da tarefa de toda Internacional. “Vivemos em um período histórico sem precedentes e eu penso ‘que maravilha viver hoje’, com o nível de tecnologia que temos e o momento histórico em que nos encontramos”, disse. “Podemos deixar para as futuras gerações outra sociedade, as possibilidades da humanidade são imensas, mas ela tem que se liberar deste peso que é o sistema capitalista”.

O secretário geral da EM, Serge Goulart, destacou o grande ânimo com o qual os militantes saem da Escola de Quadros e da Conferência. Para ele, isto mostra a saúde, capacidade e força que a organização está construindo. Serge avaliou a rapidez com que diversos camaradas se desenvolvem politicamente diante da conjuntura política nacional, internacional e da EM. “Este amadurecimento é nossa responsabilidade levar para cada CR [Comitê Regional], para cada célula e para os nossos contatos”.

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Resolução final sobre a situação política e tarefas

O documento reafirma a análise de que o traço predominante da situação política mundial segue sendo a instabilidade do regime capitalista. Com o aprofundamento da crise, crescem também os ataques à classe trabalhadora, mas as massas resistem em todo o mundo.

Os centristas e reformistas, pessimistas como sempre, encontram-se atônitos. Nos EUA, Trump convive com a queda de apoio popular com menos de 100 dias de governo. Na França, milhões de pessoas apoiaram Mélenchon na disputa à presidência, com um discurso que soa para as massas como “revolução”. Em todo o mundo, cresce a polarização de classes.

Esta é também a situação em que mergulhou a América Latina. Na Venezuela, só os trabalhadores poderão reabrir o caminho para a revolução proletária, mas para isso terão que se livrar dos líderes reformistas, que disfarçadamente apóiam o capital. Na Argentina, Macri enfrenta uma verdadeira convulsão das massas, que começam a passar por cima da burocracia sindical corrupta do país.

No Brasil, Temer não pode aplicar todas as reformas exigidas pela burguesia sem enfrentar uma grande reação. Ele não possui uma base social real para sustentá-lo. A aprovação de reformas no Congresso são golpes, mas as massas ainda não entraram em cena para serem ditas derrotadas. Elas observam e sua raiva cresce. Temer só se sustenta porque as direções das organizações de massa se recusam a mobilizar de verdade para enfrentá-lo.

O impeachment de Dilma tirou dela a tarefa de aplicar os planos de austeridade. Permitiu uma sobrevida ao PT. Isso e a decomposição do sistema político brasileiro é o que permite que Lula esteja em primeiro lugar nas intenções de voto para presidente em 2018.

Sua possibilidade de ser candidato depende de um cálculo político das frações burguesas que brigam entre si, mas sua eleição estaria longe de ser uma salvação ao PT. Ele terá – e abraçará – a responsabilidade de concluir as reformas de Temer. Acabará como Lech Walesa na Polônia, que eleito presidente restaurou o capitalismo, destruiu conquistas trabalhistas e sociais e acabou com 1% dos votos na eleição seguinte.

A operação Lava Jato é uma “limpeza geral” para varrer os políticos e partidos mais odiados pelas massas, salvar as instituições burguesas que afundam e atacar a esquerda e os trabalhadores. Os últimos acontecimentos confirmam esta análise. A EM condena a visão nacionalista de defesa das empresas que estão sendo afetadas por esta operação e pela “Carne Fraca” e defende a “Estatização sob controle dos trabalhadores”. O regime da Nova República surgida do pacto da Constituinte de 1988 está ruindo. A palavra de ordem de Frente Única “Fora Temer e o Congresso Nacional” formulada pela Esquerda Marxista ressoa.

Neste cenário, faz-se de grande importância o lançamento de uma candidatura própria do PSOL desde já. O já anunciado nome de Chico Alencar pode ser esta via, mas precisa se desenvolver apoiado e apoiando as lutas em curso, apontando uma alternativa contra todas as instituições e o capitalismo. A definição do programa desta candidatura pode determinar o futuro do PSOL. A EM, que entrou neste partido com objetivo de construir e, neste caminho, ajudar o proletariado brasileiro e reconstruir/construir um partido de classe de massas, participará deste debate.

Na juventude, a EM continua seu trabalho de impulsionar a Liberdade e Luta, na defesa da educação pública, gratuita e para todos, no objetivo de educar os jovens com os olhos da classe trabalhadora, contra as guerras e em defesa do socialismo.

No trabalho sindical, deve imperar nas ações e formulações dos militantes da EM no próximo período a luta pela liberdade e independência sindical. É preciso pôr abaixo a atual estrutura sindical varguista herdeira da Carta del Lavoro, de Mussolini e um dos pilares de sustentação do Estado Burguês no Brasil. Entre as campanhas centrais que devem ser desenvolvidas, também estão a luta contra as reformas da Previdência e Trabalhista, desenvolvendo não apenas a Frente Única, mas a construção efetiva da EM.

A Conferência decidiu ainda lançar a organização “Mulheres pelo Socialismo”, com base no trabalho teórico e político até agora desenvolvido pela Comissão de Mulheres da EM. O Movimento Negro Socialista deve ser relançado, através da ação prática e da recuperação de textos, da produção teórica e política, da luta contra toda e qualquer manifestação racista, assim como contra as reacionárias leis racialistas que promovem a divisão da classe trabalhadora e da juventude.

Foto: Johannes Halter

Sobre o Jornal Foice e Martelo, reafirma-se sua função de unificador e impulsionador das campanhas da EM. Ele é um instrumento de batalha pela construção e elevação do nível político dos ativistas mais conscientes, que podem e devem ser ganhos para o marxismo. É tarefa de cada militante comunista se colocar as questões: “como posso ajudar no desenvolvimento e uso do jornal revolucionário, como posso contribuir, o que posso escrever?”

Solidariedade

A Conferência aprovou ainda que será realizado um balanço dos dois mandatos parlamentares que a EM tinha até 2016 para, a partir dele, preparar a participação nas eleições de 2018 e educar a militância na forma revolucionária e bolchevique desta intervenção. Também se anunciou uma resolução (a ser redigida pela CE da EM) de apoio e solidariedade à Fábrica Ocupada Flaskô que sofre boicote por meio do corte de luz realizado pela CPFL Energia.

Os participantes da Conferência exigiram ainda a punição aos responsáveis pela morte do estudante de jornalismo Mashal Khan, jovem paquistanês linchado por islamistas fundamentalistas por ter fotos do Marx e Che Guevara no quarto e denunciar fraudes na universidade “Abdul Waki Khan” em que estudava. Assista ao vídeo: