Campinas e São Paulo: Revolução em debate

Debates sobre a Revolução dos Povos Árabes atrai militantes de Campinas e São Paulo na última semana.

Mesmo numa quinta-feira (17/02) chuvosa e com trânsito complicado em Campinas-SP, cerca de 60 pessoas participaram do debate: “A onda revolucionária nos países árabes”, promovido pelo PT de Campinas, Fábrica Ocupada Flaskô e Esquerda Marxista do PT. O plenário do Diretório Municipal do PT compunha-se majoritariamente de militantes do PT, jovens e sindicalistas, além de companheiros do PSOL e do PCB.

O professor Mohamed Habib, formado na Faculdade de Alexandria no Egito e atual pró-reitor da UNICAMP deu uma verdadeira aula sobre a história do Egito e dos países de língua árabe, para contextualizar e subsidiar o debate sobre a onda revolucionária que percorre o norte da África e o Oriente Médio.

O presidente do PT Campinas, Ari Fernandes e o companheiro Rafael Prata (Esquerda Marxista) completaram a mesa debatedora. Ari ressaltou a semelhança entre a luta dos povos árabes para derrubar governos ditatoriais com a origem do próprio Partido dos Trabalhadores, que nasceu combatendo a ditadura militar brasileira.

Já Rafael Prata explicou a atuação da Corrente Marxista Internacional (CMI), que desenvolve uma intensa campanha de solidariedade com a revolução árabe, seja intervindo diretamente nos acontecimentos, dentro do possível, através das seções marroquina e dos países europeus que são banhados pelo Mar Mediterrâneo; seja participando de atos nas embaixadas do Egito e promovendo debates ou seja ainda elaborando artigos e textos para analisar e informar corretamente os trabalhadores de todo o mundo a respeito da revolução nos países árabes.

(Nesse aspecto, a seção brasileira começa a divulgar uma cartilha com uma coleção de textos do camarada Alan Woods, um dos dirigentes da CMI. Aliás, a venda dessas cartilhas e uma coleta espontânea no final do debate arrecadaram uma boa quantia para a luta da Esquerda Marxista/CMI em apoio à revolução árabe).

Após as apresentações, coincidentemente, 13 militantes se inscreveram para falar e, entre os temas levantados, destacou-se:

– a repressão policial que prendeu centenas, feriu milhares e matou aproximadamente 400 manifestantes só no Egito, mas que ruiu diante da gigantesca e determinada ocupação da Praça Tahrir no Cairo. Aliás, o povo na rua provocou fissuras até no Exército. Soldados e oficiais enviados para dispersar e assassinar a população não dispararam suas armas e tanques e alguns passaram-se abertamente para o lado do povo;

– o papel dos trabalhadores na revolução tunisiana e egípcia, através de greves econômicas e políticas e da luta pela liberdade de organização sindical que, junto com as manifestações de massa nas ruas, fizeram cair os ditadores;

– o nível de conscientização do povo árabe, que construiu comitês para sua auto-defesa que, em alguns locais, assumiu funções públicas, diante do fracasso dos governos regionais atrelados à ditadura;

– a utilização pela juventude de novas ferramentas de comunicação, como a internet e suas redes sociais, para a divulgação de manifestos, textos, fotos e vídeos pelo mundo;

– a atuação do imperialismo dos EUA na região e sua perda de influência, bem como as alterações que a revolução pode provocar no conflito entre Israel e Palestina;

Mas, a maior preocupação de todos os presentes, sem dúvida, era com o futuro da revolução: o que vai acontecer agora, depois que os ditadores caíram? Haverá condições para que a luta pela democracia avance rumo a uma transformação socialista do Egito, da Tunísia e outros países? Os regimes autoritários da Tunísia, Arábia Saudita, Líbia, Argélia, etc. vão conseguir se manter? O imperialismo conseguirá promover uma transição à democracia que mantenha seus privilégios e os privilégios de seus aliados na região? O Conselho Militar que assumiu o poder no Egito confiscará a vitória popular ou a situação permanecerá instável?

Ao mesmo tempo em que não poderia haver respostas prontas para cada uma dessas questões, elas revelam a profundidade e a riqueza da discussão, essenciais para cumprir o papel de um debate de cunho social que é, sem dúvida, o de elevar o nível teórico dos militantes, para que estejamos todos preparados para defender e apoiar o processo revolucionário árabe.

São Paulo

Já na capital paulista o debate foi no sábado, 19/02, à tarde e contou com a participação de mais de 30 pessoas que lotaram o auditório da Livraria Marxista. Dentre os presentes estavam estudantes, trabalhadores, militantes do PT, PSOL e PCR.

O debate teve início com uma exposição do Professor Daniel Feldmann sobre a questão palestina e um apanhado geral da história das últimas décadas que envolve Israel, Egito, Palestina e outros países árabes.

Depois, o camarada Caio Dezorzi fez uma exposição sobre a atual revolução em curso nos países árabes, em particular na Tunísia e Egito, ressaltando o problema da ausência de partidos operários de massa nesses países. Em seguida, foram exibidos alguns vídeos com imagens das manifestações no Egito e depoimentos de manifestantes.

Mais de 10 pessoas pediram a palavra e se desenvolveu um rico debate. Foi discutida a questão de como caracterizar o movimento nesses países, se de fato pode se dizer que uma revolução começou. Foi discutida a questão da teoria da Revolução Permanente e como uma revolução que começa por direitos democráticos mais elementares pode se desenvolver para uma revolução socialista que coloque a questão da propriedade privada dos grandes meios de produção e do poder da classe trabalhadora.

Além disso, a questão do partido também foi muito discutida. Mas, assim como no debate de Campinas, o que aflige a todos é o futuro próximo: Como impedir que a revolução retroceda e seja levada à derrota? E, porque os povos de alguns países estão despertando e de outros não. Como o povo brasileiro vê isso tudo? Qual o impacto na consciência das massas de todos os países que vêem os manifestantes egípcios enfrentando a polícia sem medo, na internet e na TV? Questões importantes que foram debatidas e que continuarão sendo discutidas na próxima atividade que será a Conferência com Alan Woods na USP no dia 06 de abril.

Foram vendidas brochuras com artigos de Alan Woods sobre a Tunísia e Egito, além do Jornal Luta de Classes, que este mês traz um encarte especial sobre a revolução dos povos árabes.

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