As eleições e a luta de classes na África do Sul

A classe trabalhadora da África do Sul votou de forma massiva no CNA (Congresso Nacional Africano) que, depois da virada à direita no governo de Mbeki (1999-2008), gira novamente à esquerda, contrariando os interesses dos capitalistas.

Muitos consideram que a eleição de 2009 foi uma das mais importantes para a história da África do Sul pós-apartheid, demonstrando que a política sul-africana permanece marcada por uma luta racial e de classe.

Antes mesmo de Mbeki suceder Mandela no poder em 1999, o que tivemos até então foi a aplicação da política de ajuste estrutural e privatizações, e de ataque ao povo sul-africano.

Mbeki ganhou a simpatia do capitalismo global “falando à esquerda e caminhando à direita”, tentando criar uma “burguesia negra” com uma política de cooptação e aplicando os planos econômicos do imperialismo. No entanto, esta política provocou tensões e divisões dentro do CNA, e também entre o governo e outros partidos coligados – o COSATU (Conselho dos Sindicatos Sul-Africanos) e o PCSA (Partido Comunista Sul-Africano).

O COSATU convocou uma série de greves gerais que refletiam a raiva dos trabalhadores contra a política do governo que eles elegeram. Dentro do PCSA também havia fortes críticas ao governo do CNA. Porém, na prática, os parlamentares do PCSA apoiaram a política de Mbeki, inclusive com ministros no governo.

Para forçar o giro à direita, o governo Mbeki começou a utilizar as estruturas do Estado para acabar com os focos de esquerda no governo. Surgiram calúnias contra o líder do PCSA, Nzimande, assim como acusações de estupro e vendas de armas envolvendo Zuma, adversário de Mbeki no CNA.

Devido ao giro à direita, não é de estranhar que durante o mandato de Mbeki, a classe trabalhadora sul-africana, base do CNA, perdesse a paciência com a direção da legenda. Por isso, no Congresso do CNA de Polowkane, em 2007, o grupo de Mbeki foi derrotado. Seus partidários criaram então o “Congresso do Povo” (COPE). Os partidos de direita esperavam que esta cisão prejudicasse o CNA. Mas as eleições de 2009 deram uma lição a todos estes populistas de direita. Com a cisão do CNA, a classe dominante esperava destruir seu domínio eleitoral e formar uma nova coalizão de governo entre o recém-formado COPE e o AD (Aliança Democrática), ou ao menos ter uma oposição forte que neutralizasse qualquer perigo de um giro à esquerda de um governo do CNA.

Em lugar de dividir o voto do CNA, o COPE dividiu o voto da classe média e dos fundamentalistas cristãos, conseguido pequenos resultados nacionalmente (7,43%). Não conseguiu apoio da classe operária, confirmando assim a derrota de sua direção no congresso do CNA. Porém, converteu-se no partido oficial de oposição em quatro províncias.

Os trabalhadores e os pobres, uma vez mais, votaram em massa no CNA, mas com a expectativa de uma mudança política, de um giro à esquerda. Na realidade, ainda que a porcentagem de voto do CNA tenha diminuído ligeiramente, o número total de votos cresceu (apesar da cisão), chegando a 11,6 milhões (foram 10,8 milhões em 2004). A AD celebrou vitória, por ter conseguido 16,66% dos votos, fazendo com que o CNA não conseguisse uma maioria parlamentar de dois terços. Sua campanha centrou-se nos temores da influência “comunista” sobre um governo negro.

Na verdade, os pobres estiveram contra o projeto desenvolvido pelo regime de Mbeki na última década. Zuma, o novo presidente eleito pelo CNA, depois das eleições, trata de acalmar os capitalistas. Mas não se pode servir a dois amos. Se o novo governo do CNA quiser contentar as grandes empresas, logo entrará em conflito com os trabalhadores, que se expressarão através do COSATU e o PCSA.

A tarefa dos marxistas na África do Sul é começar uma luta séria para desenvolver um programa socialista. Uma coisa ficou evidente nestes últimos quinze anos de democracia burguesa e de governo do CNA: os problemas que as massas de trabalhadores na África do Sul, sofrem – como o acesso à terra, à moradia, à educação e à previdência, e que estão relacionados com a discriminação racial – não podem ser resolvidos dentro dos limites do capitalismo. Só há uma solução: a expropriação dos meios de produção, baseado em um plano de produção sob o controle dos trabalhadores, que comece a abordar os problemas da falta de moradia, pobreza e desemprego que atingem milhões de sul-africanos.

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