Argentina: a direita dá um passo à frente perante a impotência do reformismo. A resposta é o socialismo

A sede do governo macrista, ao recuperar os anos “desperdiçados” depois do Argentinaço, parece, por um momento, que perde a perspectiva política de sua ascensão em 10 de dezembro de 2015. Esta perda de perspectiva política é que faz o governo dos empresários acreditar que, com o triunfo de dezembro, a burguesia, por meio dele, poderá avançar contra as conquistas que custaram anos de luta por parte dos trabalhadores e os setores populares.

A sede do governo macrista, ao recuperar os anos “desperdiçados” depois do Argentinaço, parece, por um momento, que perde a perspectiva política de sua ascensão em 10 de dezembro de 2015. Esta perda de perspectiva política é que faz o governo dos empresários acreditar que, com o triunfo de dezembro, a burguesia, por meio dele, poderá avançar contra as conquistas que custaram anos de luta por parte dos trabalhadores e os setores populares.

A própria União Industrial Argentina advertia, faz pouco tempo, que o macrismo parecia querer suicidar-se pela maneira como aplicava o pacote de austeridade. Desmonte dos programas sociais como Conectar Igualdad, FINES, Procrear, entre outros; deixa literalmente na rua milhares de trabalhadores. Mas não é somente no nível estatal que a burguesia, perante a crise mundial capitalista, ataca. Também nas indústrias, com adiantamento de férias ou, simplesmente, com suspensões e demissões. O fato de, em apenas 120 dias, 1,5 milhão de pessoas passarem para baixo do nível de pobreza, já marca a magnitude do ataque.

A ofensiva das diferentes burguesias regionais possui sintonia, assemelhando-se a certa aparência de embriaguez. Em geral “chutaram o balde”, sendo  caso mais visível o da burguesia brasileira, avançando no julgamento político de Dilma e, com esta decisão, desatando forças políticas nas massas, com o que as classes dominantes irão se arrepender. Também podemos observar, na região. o caso da Venezuela, com a perda da Assembleia Legislativa por parte do governo bolivariano para as mãos da ofensiva dos sórdidos, os mesmos que seguem arquitetando a ideia da destituição de Maduro. Na Bolívia, a derrota de Evo Morales no plebiscito pela reeleição ou no Peru com Keiko Fushimori pretendendo tomar o controle do Estado.

O isolamento de Macri e de seu governo é cada vez maior, não somente dos trabalhadores e dos setores populares, incluindo grande parcela dos que nele votaram, mas também do arco opositor que se aglutina tentando distinguir-se do macrismo para não ser arrastado numa possível sublevação das massas no cenário político.

Houve momentos antes da convocatória à formação da Frente Cidadã, feita por Cristina Fernandéz (Kirchner – presidente sucedida por Macri), em que o governo dos empresários parecia fazer água.

Em seu último discurso, Cristina Fernandéz fez uma advertência à burguesia: “nos deixaram um país arrasado em 2003 e agora entregamos um país normal”. Esta advertência, dita em simples palavras, significa que em 2003 tomaram um país pós-Argentinaço (manifestações em massa que derrocaram o governo de Fernando de la Rúa), perpassado pelo “saiam todos” e pelos cinco presidentes derrubados em somente uma semana. O kirchnerismo veio a recompor a governabilidade e as instituições capitalistas espancadas pelas massas, e pôr em sua agenda política as demandas que estavam nas ruas. Este período perdurou no boom econômico, encontrando o princípio do fim na crise capitalista franqueada em 2008.

A burguesia se encontra com uma contradição: ou avança mais no pacote de ajuste e segue reconfigurando o Estado ainda mais, segundo seus interesses, e gera uma situação de maior instabilidade, ou tira o pé do acelerador e conduz em outra velocidade a implementação do pacote de medidas. É evidente que a fração burguesa no governo decidiu ir fundo. Assim, tal tipo de embriaguez, que faz com que avance sem piedade a implementação do pacote de ajuste, pode parecer uma loucura, como se diz ou se escuta comumente, mas esta decisão e pressa por parte dos capitalistas estão determinadas pela crise mundial de um sistema que descarrega, sobre as costas dos trabalhadores e setores populares, sua crise.

E novamente é a liderança kirchnerista, com a convocatória à Frente Cidadã, que sai ao salvamento da situação política, das instituições parlamentares e da governabilidade perante o naufragar de um governo que soma cada vez mais antipatia.

A resposta das massas, diante da intenção do macrismo de se fazer passar o ajuste, não demorou, porque não suportam outra profunda deterioração em suas condições de vida. Guardar a luta para 2017 com as eleições legislativas, e para 2019 com as presidenciais, como o kirchnerismo pretende encaminhar a fúria na via parlamentar, é só subordinar os interesses dos trabalhadores e setores populares à agenda patronal.

Nas últimas semanas, a rejeição pela base aos 120 dias de governo se expressou em duas paralisações gerais das Centrais Estatais. Distintas universidades saíram com planos de luta de quatro dias, com acompanhamento de marchas, docentes concentrados na CTERA (Confederação de Trabalhadores da Educação da República Argentina) e na SADOP (Sindicato Argentino de Docentes Particulares). Bancários conseguindo a reincorporação de 20 companheiros suspensos e o acordo paritário de reajuste salarial em janeiro, de 33%, com cláusula de gatilho inflacionário caso haja nova aceleração econômica e a convocação para sexta-feira, 29 de abril, de uma marcha de todas as Centrais Sindicais em repúdio às atuais políticas.

Trata-se de tirar as conclusões imperiosas e debater qual programa precisamos para frear o avanço capitalista e derrotar este sistema, que somente gera fome, guerras e inatividade. Trata-se de avançar na unidade para lutar por:

  • Nenhuma demissão ou suspensão;
  • Contratação direta de todos os subcontratados e terceirizados;
  • Nacionalização, sob gestão democrática dos trabalhadores, de toda empresa que feche o demita massivamente;
  • Nenhuma cobertura a “acordões”: indexação automática mensal dos salários de acordo com a inflação; salário mínimo igual à cesta familiar (20 mil pesos argentinos);
  • Isenção do “imposto sobre lucros” para os trabalhadores em convenções coletivas;
  • 82% do salário mínimo em reajuste para os aposentados;
  • Abaixo ao tarifaço: congelamento de tarifas e aluguéis;
  • Não à criminalização de protestos;
  • Não ao pagamento da dívida externa;
  • Estado de alerta e assembleia em todos os lugares de trabalho;
  • Liberdade a Milagro Sala;
  • Continuidade e resolução definitiva em um grande processo de julgamento de lesa humanidade contra os repressores civis e militares.

Agregue-se na construção da Corriente Socialista Militante!

Artigo publicado originalmente em 30 de abril de 2016, no site El Militante, da seção da CMI na Argentina, sob o título “La derecha da un paso al frente ante la impotencia del reformismo. La respuesta es el Socialismo.

Tradução de Nathan Belcavello.