Trabalhadores se acorrentaram em uma greve de fome para tentar superar debilidades da greve. Foto: Deva Garcia

Após 29 dias, termina greve dos professores e orientadores do DF

No dia 12 de abril de 2017, após 29 dias e numa apertada votação em uma assembleia esvaziada, termina a greve dos professores e orientadores educacionais de Brasília, Distrito Federal. Da pauta local reivindicada pela categoria, simplesmente nenhum item foi atendido e o movimento terminou com as promessas de não haver terceirizações na área de Educação, o pagamento das pecúnias devidas aos que se aposentaram em 2016 e o pagamento dos cortes salariais feitos em folha suplementar ainda em abril.

Para além da intransigência do governador Rodrigo Rollemberg e de seus negociadores junto à comissão eleita pelos grevistas, da decretação da ilegalidade da mobilização e dos descontos nos salários, outros aspectos foram contundentes para o abrupto declínio que culminou no fim da greve.

Uma primeira questão a ser analisada foi a adesão da categoria ao movimento. Nos 29 dias corridos de mobilização houve uma oscilação muito grande do nível de participação dos professores e orientadores. Parece que a direção do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (SINPRO-DF) avaliava a participação da categoria na greve por meio da presença dos professores e orientadores educacionais nas assembleias. Talvez daí a informação prestada à mídia de que “entre terça e quarta, a adesão da categoria caiu de 60% para 25%”[1]. Contudo, mesmo com regionais onde o nível de participação foi expressivo, como no Gama, a verdadeira adesão girava abaixo da metade, segundo levantamentos da própria base, pois muitos professores paravam tão somente para participar das assembleias, retornando em seguida às salas de aula. O que muitos colegas classificaram como “pelegagem”, na verdade é a consequência de um processo de debate e construção do movimento inexistente. Conforme abordado no primeiro balanço da greve feito ainda nos primeiros dias: “Faltou maior diálogo entre a direção do SINPRO-DF e a base. Muitas escolas não tiveram, se quer, a visita de algum membro da direção sindical e em muitas a escolha de delegados sindicais foi feita um dia antes da deflagração da greve”[2]. A falta de esclarecimento da base com relação à pauta de reivindicação, além da letargia na ação da direção do SINPRO-DF no momento da deflagração da greve no caso do não pagamento do salário de fevereiro dos professores temporários (encarada como descaso da direção sindical para com esta parcela da categoria), fez com que o movimento já começasse com a baixa adesão desta importante parcela da categoria.

Com relação à pauta, que conciliava a luta por questões locais com, sobretudo, a nacional – contra as reformas trabalhista e, principalmente, a da previdência – desdobra-se a segunda avaliação premente. Uma parcela expressiva da categoria assumiu a tarefa da luta contra a reforma da previdência. E a motivação era clara: entre outros profundos ataques à classe trabalhadora, a proposta do ilegítimo governo Temer em conluio com o Congresso Nacional prevê o fim da aposentadoria especial de 25 e 30 anos de contribuição, respectivamente, para professoras e professores e a única nefasta regra de aposentadoria com 100% da média salarial com a idade mínima de 65 anos e 49 anos de contribuição. Mais que o não cumprimento das leis que garantiam reajustes salariais e nos benefícios da categoria, nas salas dos professores os debates desaguavam na luta contra a reforma da previdência e nela ganhavam contorno de mobilização.

A vitoriosa manifestação do 15M transpareceu o vigor para a luta na perspectiva da pauta nacional. Mas o estabelecimento da convocação da greve geral pelas centrais sindicais para o longínquo 28 de abril abateu o ímpeto da mobilização mais que a intransigência já esperada do Governo de Brasília nas negociações das reivindicações locais. Ao invés dos representantes ligados à direção do SINPRO-DF no Comando Geral da Greve darem lugar e voz às propostas de maior mobilização da categoria por meio de atividades consideradas por eles como “mais radicais”, foram sepultando-as, uma a uma, sem nem mesmo serem apreciadas na assembleia. Além disso, a falta de diálogo e articulação com as demais categorias do serviço público distrital era patente em falas nas assembleias que sustentavam a “altivez dos professores, única categoria mobilizada no Distrito Federal”, como se fosse um orgulho e não, para se dizer pouco, uma falta de visão estratégica da direção sindical, já que as motivações da luta impactam a toda a classe trabalhadora.

Todos esses elementos culminaram numa assembleia esvaziada na manhã de 11 de abril, suspensa para a execução de uma caminhada do Palácio do Buriti para a Catedral de Brasília, onde um grupo de professores, em um último ato para fomentar a mobilização, acorrentaram-se nas estátuas que representam os quatros evangelhos e declaravam o início de uma greve de fome exigindo a negociação do Governo de Brasília. No dia seguinte a resposta foi dada: nenhuma linha a mais do que já havia sido apresentado como “proposta”. E a greve é finalizada com a promessa de manutenção da luta contra os ataques aos direitos dos trabalhadores e a participação da categoria no dia 28 de abril.

Aqui cabe o crucial papel das parcelas mais progressistas da categoria: em um cenário desolador deixado pelo desenrolar dos fatos e pelo tratamento dado aos mesmos pela direção sindical, é necessário que o debate relacionado à luta que se mantém contra as reformas trabalhistas e da previdência não se perca em meio às lamentações e caça às “bruxas” e aos “fura greve”. Avaliar o movimento e manter o debate para a construção da greve geral por meio da unidade dos trabalhadores deve ser a força motriz capaz de empurrar os mais vacilantes e os que possuem outras perspectivas com relação a mobilização da classe trabalhadora na luta que está longe de se findar.

  • Nenhum Direito a menos!
  • Fora Temer e o Congresso Nacional!
  • Abaixo à terceirização e às reformas trabalhistas e da previdência!
  • Por um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora!

[1] RODRIGUES, Larissa. Termina a greve dos professores. Aulas retornam na segunda-feira (17). Metrópoles, 12 abr. 2017. Disponível em: <http://www.metropoles.com/distrito-federal/servidor/termina-a-greve-dos-professores-aulas-retornam-na-segunda-feira-17>.

[2] Primeiros dias da greve do magistério do Distrito Federal. Disponível em: <https://www.marxismo.org.br/content/primeiros-dias-da-greve-do-magisterio-publico-do-distrito-federal/>.