Aonde vai a nossa economia?

No ano passado, um dos maiores meios de comunicação sobre economia da burguesia, a revista The Economist, pediu a cabeça do Ministro da Fazenda Guido Mantega. Mas The Economist, apesar de pedir a cabeça do ministro, não tem nenhuma proposta que possa recolocar a economia nos trilhos e, principalmente, fazê-la andar e não ser atropelada pela crise que chega como um trem pesado e barulhento.

No Brasil, um artigo de Jânio de Freitas intitulado “Contra o desejado”, publicado no site da Folha, levanta um pequeno problema: todos os jornais e analistas pediam a baixa dos juros e o aumento do dólar. Os juros baixaram. O dólar aumentou. Foi feita a desoneração da folha de pagamentos. A energia diminuiu para as empresas. E agora? Do que todos estão reclamando?

Apesar do tom irônico – e acertado – de Jânio, infelizmente o que todos estão reclamando é da crise e esta vai bem, obrigado. O problema de todos eles é que por não conhecerem o motivo, a origem, as causas da crise, combatem as cegas os seus efeitos e desesperam-se ao não conseguirem os resultados que tinham previsto.

Alguns dados – a produção de laranjas caiu de 2011 para 2012. Motivo? Diminuição do consumo! A venda de novos imóveis encontra-se estagnada, assim como dos velhos, e os preços continuam altos. Afinal, o que está acontecendo? Porque a economia não deslancha? Porque começamos de novo a ouvir falar em demissões como em São José dos Campos?

A resposta é uma que a burguesia não gosta de ouvir e que os economistas querem esquecer que existe: o mercado é mundial e um país sozinho não vai sair da crise. Aliás, a crise é resultado da superprodução em termos capitalistas. Resumindo:

Durante a década de 1990-99 o capitalismo retoma o seu “crescimento” baseado na destruição do enorme parque produtivo da ex-URSS e da entrada desta no sistema capitalista. É negociada com os burocratas chineses do Partido Comunista a entrada do capital e a super-exploração da mão de obra chinesa. Resultados: cai expectativa de vida na Rússia em mais de 20 anos, cai a participação dos trabalhadores na renda nacional dos EUA em mais de 20% e a China se torna o “chão de fábrica” do globo com capital vindo do mundo inteiro e uma classe operária super-explorada.

Mas como consumir esta enorme produção? O crédito aumenta brutalmente. Tanto o crédito privado – crédito para casas, cartões de crédito, carros, etc – quanto o crédito para empresas e governos. Assim, a enorme produção é escoada e o parque produtivo se adequa aos “novos-velhos” tempos, com um aumento brutal da exploração da classe operária e a produção em massa de quinquilharias eletrônicas e carros.

O Brasil adequa-se à nova realidade reduzindo a sua indústria e voltando ao início do século XX com a produção de minério de ferro, alumínio e produtos agrícolas (rebatizados de “commodities”) aumentando e tornando-se a principal pauta de nossas exportações. A única mudança – ao lado do café, destaca-se a soja e a carne, a velha cana de açúcar (açúcar e álcool) retoma também o seu lugar. Cai a produção industrial, aumenta a importação de máquinas, equipamentos e de produtos finais e também a importação de petróleo.

Um pequeno parêntese: O Brasil produz petróleo e vende. E precisa importar. Por quê? Acontece que as nossas refinarias são preparadas para o óleo “leve” e nós produzimos óleo “pesado”. Resultado – um dos maiores itens de nossa exportação é também o maior item de importação. Por outro lado, como o investimento da Petrobras está concentrado no Pré-sal e na competição com outras indústrias (fruto da quebra do monopólio estatal do petróleo) as refinarias previstas estão todas atrasadas e não só continua esta distorção como ela tende a aumentar!

O ano de 2012 terminou com a menor taxa de desemprego da história. Mas o IBGE alerta que o crescimento do emprego formal está desacelerando. O emprego industrial caiu. A produção industrial caiu. O que sustenta o pequeno crescimento do PIB foi ainda o “consumo familiar”. Ou seja, o aumento do salário mínimo (e das aposentadorias) dos últimos anos e o aumento do crédito. Mas, como todos sabem isso tem um limite. A própria política governamental, ao desonerar a folha de pagamentos e passar o financiamento da previdência para o imposto sobre consumo (em outras palavras, ao invés do patrão, quem paga a previdência é o trabalhador) leva a inflação – aumento dos preços para compensar aumento do imposto sobre consumo.

E a burguesia e os economistas, desesperados, não entendem porque cresce a inflação. Eles tomam as medidas e não querem enxergar seus efeitos. Resultado – desaceleração do consumo, diminuição do ritmo de crescimento do PIB. E tome medidas para aumentar o dólar, para baixar o dólar, para manter o dólar no valor de dois reais… E nada disso resolve, porque não é possível resolver o velho problema de produzir mais que o mercado pode consumir, em termos capitalistas.

Desenvolvimento? Industrialização? Na verdade o PAC apenas retoma os velhos programas dos anos 20 e 30 e, para os estudiosos de história, ou para nós que lembramos das velhas aulas do primeiro e segundo grau, vem à mente o lema de Washington Luiz: “governar é abrir estradas”. Sim, bom e velho presidente (1926-1930), que hoje é seguido à risca.

Ao lado disso, em nome de se “preparar para a crise”, os velhos ataques aos direitos sociais: desoneração da folha de pagamentos, ataques à aposentadoria, redução de direitos sociais, etc. Tudo em nome da modernidade. Mas, apesar disso tudo, porque não crescemos tanto quanto outros países crescem? Mirem a China, mirem a Rússia, dizem os economistas. E, coitados, sem entender um centavo de economia, tentam encontrar ordem no caos que é a economia capitalista.

Mirem as guerras, mirem a economia europeia, mirem a pobreza e a desigualdade social nos EUA, mirem os apartamentos sem compradores na China e talvez vocês tenham alguma ideia de porque disso tudo. Sobram produtos, sobra capital, e faltam mercados.

A verdade é que o capitalismo nos próximos anos só pode prometer mais suor e lágrimas para os trabalhadores, para os povos em geral e mais lucros para os burgueses que conseguirem sobreviver. Aos trabalhadores, que hoje lutam e veem isto, temos que dizer a verdade, crua e nua: no capitalismo, essa é a regra. Para mudar isso, é preciso lutar decididamente pelo socialismo.