ALERTA OPERÁRIO

Carta aos trabalhadores contra a colaboração de classes impulsionada através da campanha “Grito de Alerta” chamada por patrões e sindicalistas

 

O manifesto “Grito de Alerta” assinado por entidades patronais (FIESP/CIESP, FIEP, FIEMG, ABIT,  ABIPLAST, ABINEE, ABIMAQ, ABIQUIM, ABIPEÇAS) e entidades sindicais (Força Sindical, UGT, CTB, CGTB,  CNM/CUT,  Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, SINAFER, SIMEFRE, SINDITEXTIL) exige medidas do governo, sob o pretexto de proteger a produção da indústria brasileira frente às importações, mas que servem para retirar direitos dos trabalhadores direta e indiretamente.

Apesar da CUT não assinar o manifesto, o seu braço metalúrgico assina. Apesar da CUT de Santa Catarina corretamente ter adotado resolução contrária à participação do ato em Santa Catarina, em outros estados a CUT não só participou como organizou os atos junto com os patrões, inclusive em São Paulo, onde a direção nacional da CUT esteve representada por seu presidente Artur Henrique que, se fazendo de ingênuo, disse que “o Grito de Alerta reúne setores empresariais e representantes sindicais, mas em nenhum momento será admitida a redução ou flexibilização de direitos dos trabalhadores”.
 

E quanto à desoneração da folha de pagamento de mais 11 setores da indústria anunciado por Dilma na véspera deste ato em São Paulo?! Ninguém fala nada sobre o governo liquidar na prática com a CONTRIBUIÇÃO PATRONAL NA PREVIDÊNCIA?

 
No ano passado, o chamado “Plano Brasil Maior” já havia desonerado a folha de pagamento de quatro setores (Têxtil, Calçados, Móveis e Software) abrindo mão da contribuição previdenciária dos patrões de 20% sobre a folha de pagamento em troca de um imposto de 1% sobre o faturamento das empresas – deixando assim, a previdência, que é uma conquista dos trabalhadores, refém da lucratividade de cada empresa. Ou seja, quando estes setores forem atingidos pela crise, quem vai pagar a conta é a previdência dos trabalhadores. Com as novas medidas, agora são 15 setores da indústria que não precisam garantir a parte dos patrões na previdência! Dilma afirmou que se a Previdência for prejudicada com isso, o Tesouro Nacional cobrirá a diferença. 
 
Oras! Mas o dinheiro público que deveria ser usado para serviços públicos que os trabalhadores necessitam (saúde pública, educação, moradia, saneamento, etc.) será usado para pagar a conta que os patrões não precisarão mais pagar? Assim fica fácil entender o corte de mais de 100 bilhões no orçamento de 2011/2012! Além disso, os impostos não são “neutros”. Impostos sobre a folha de pagamentos para a previdência são salários indiretos e assim compreendidos pelos patrões. Impostos sobre a Renda de empresas saem dos lucros. Impostos sobre o consumo, faturamento e sobre salários (o famoso “imposto de renda descontado na fonte”, no salário) são pagos pela classe trabalhadora. Então, a desoneração da folha significa que os patrões deixam de pagar e os trabalhadores pagam!
 
Participar deste “Grito de Alerta” junto com os patrões é um gol contra a classe trabalhadora!
 
Calar-se diante de mais este ataque à previdência e a todas as bilionárias doações de dinheiro público aos empresários é ser conivente com a pilhagem nacional e a superexploração dos trabalhadores. 
 
Na Grécia, Portugal, Espanha, Itália, França, em toda a Europa, a crise demonstra que os patrões e seu sistema baseado na propriedade privada dos meios de produção afundam a sociedade no caos. Lá também, sob o disfarce de “unidade entre empresários e trabalhadores” foram aplicadas medidas para salvar o capital dos patrões à custa dos direitos dos trabalhadores, a começar pela previdência.
 
E se Dilma desonerou a folha de mais setores, se prometeu mais créditos para a “indústria”, os patrões querem mais e espalham por jornais e revistas o seu descontentamento.
 
É compreensível que trabalhadores mais desavisados, ainda mais sendo orientados por dirigentes sindicais, acreditem que este tal “Grito de Alerta” seja de fato para defender os empregos. Mas não é nada disso! Por isso lançamos este “Alerta operário”!
 
Enquanto o governo do PT, eleito pelo povo trabalhador, continuar aliado com partidos dos patrões (PMDB, PP, PSD, etc.) as medidas serão sempre pra favorecer os patrões. Então de que adianta ganharmos as eleições?!
 
Atenção companheiros! Todos sabemos que os patrões agora dizem que estão “em defesa do emprego”, mas depois de conseguirem o que querem, não hesitarão um minuto em demitir milhares de pais e mães de família. Não devemos dar nunca nenhuma confiança aos patrões. A CUT Nacional deveria organizar uma campanha nacional em defesa da previdência, em defesa da redução da jornada, em defesa da estabilidade no emprego, em vez de participar de qualquer campanha junto com os patrões.
 
Por fim, a crise internacional cada vez mais se aproxima do Brasil. Tempos difíceis virão, mas não será com medidas nacional-protecionistas em aliança com os patrões que resolveremos a situação. A taxação de importados, o aumento do valor do dólar, atende à demanda de determinados setores dos empresários que enfrentam concorrência, mas não corresponde aos interesses dos trabalhadores. Afinal, 80% dos produtos industrializados importados correspondem a insumos utilizados na “indústria nacional”! 
 
A verdade sobre este plano está na entrevista do presidente do BNDES nos EUA, durante a visita de Dilma, mostrando a disposição de atender os “investimentos estrangeiros” no Brasil, que necessitem de crédito: “batam a nossa porta, por favor”. Ou seja, construam indústrias de capital estrangeiro no Brasil com financiamento estatal brasileiro! Este é o único “nacionalismo” que permeia este governo de coalizão.
 
Os únicos capazes de abrir uma saída para a crise são os trabalhadores, aliados não com os patrões compatriotas, mas sim com os trabalhadores de todos os outros países, contra os patrões de todo o mundo. A única saída para a crise econômica pela qual passa o mundo não é “mais capitalismo”, “mais investimento” ou “mais nacionalismo”. A única saída é o combate consciente pelo socialismo, é a expropriação de toda a propriedade privada dos meios de produção, a começar pelos grandes bancos, indústrias e fazendas. 
 
Por isso, a CUT deve reafirmar sua posição de classe e romper com a política de colaboração com a classe inimiga, a classe dos capitalistas e retomar a via da mobilização independente da classe trabalhadora, contra os capitalistas, contra as medidas do governo e pelo socialismo.
 
Os sindicalistas conscientes, féis à sua classe recusarão esse chamado “Grito de Alerta”, levantando as bandeiras dos trabalhadores, em particular a estabilidade no emprego, fim das terceirizações e em defesa da previdência.
 
É hora de passar das palavras aos atos e mobilizar de verdade para vencer.
 
Corrente Sindical Esquerda Marxista
10 de abril de 2012