Agronegócio: Desigualdades, contradições e consequências em nossa vida

           O atual modelo de desenvolvimento agrário do agronegócio se territorializa de modo excludente, ideológico e desigual. A maneira como ele estende seus tentáculos pelos diversos territórios camponeses, exclui, ou em alguns casos inclui de modo precário e subordinado, diversas famílias camponesas, expulsando-as de suas terras e expropriando-as das condições de manterem seus territórios, sua cultura e seu trabalho.

O atual modelo de desenvolvimento agrário do agronegócio se territorializa de modo excludente, ideológico e desigual. A maneira como ele estende seus tentáculos pelos diversos territórios camponeses, exclui, ou em alguns casos inclui de modo precário e subordinado, diversas famílias camponesas, expulsando-as de suas terras e expropriando-as das condições de manterem seus territórios, sua cultura e seu trabalho.

Inicialmente o termo “agrobusiness” foi desenvolvido pelos professores norte-americanos Ray Goldberg e John Davis nos anos 1950 na área do marketing e da administração. O termo servia para ajudar a expressar as relações econômicas, envolvendo a dimensão mercantil, financeira e econômica entre o setor agropecuário e os da área industrial, comercial e de serviços; como nos explicam Sérgio Pereira Leite e Leonilde Servolo de Medeiros em seu verbete “Agronegócio” presente no Dicionário da Educação do Campo.

É importante observar que a constituição do agronegócio enquanto uma rede que articula: especulação do capital financeiro, utilização de agrotóxicos e transgênicos, concentração da terra e da renda e utilização de técnicas e tecnologias avançadas; se constitui também e inserido na lógica de reprodução e acumulação do modo de produção capitalista. O agronegócio não está apartado do capitalismo!

Ao contrário, ele se constitui na lógica de expansão contemporânea do capitalismo no campo e com todas as suas intrínsecas desigualdades e injustiças. Também é importante notar que o avanço da territorialização do agronegócio se faz de modo a intensificar concomitantemente suas operacionalidades materiais e concretas e, ainda, intensificar sua disseminação ideológica, por meio de músicas, notícias, rodeios e festivais (a festa do peão de Barretos e a Agrishow em Ribeirão Preto são casos exemplares clássicos dessa expansão do ponto de vista do agronegócio no estado de São Paulo), etc.

O pensamento de Marx e Engels já nos ensinava desde 1846 em A Ideologia Alemã de que: “Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes; em outras palavras, a classe que é o poder material dominante numa determinada sociedade é também o poder espiritual dominante.” Essa lógica de entendimento é fundamental para compreendermos o porquê de muitos trabalhadores na atualidade consideram e defendem pontos de vista, opiniões e ideias da classe dominante, das elites agrárias e, portanto, do agronegócio…

São artistas famosos que são contratados para propagandas, depoimentos, documentários e filmes; músicas, notícias, pesquisas e políticas que garantem a repercussão ideológica do agronegócio, contudo, sem que nos esquecer de que essa mesma repercussão possui vinculação estreita e direta com as condições materiais das disputas que ocorrem no campo.

Apesar desse “manto ideológico” intentar a aceitação e consentimento de todos os trabalhadores sobre as “vantagens” do agronegócio, precisamos lembrar que povos pré-históricos se alimentavam com mais de 1.500 espécies de plantas. Já há 150 anos, a humanidade passou a se alimentar com produtos de 3.000 espécies vegetais e, hoje, apenas 15 espécies correspondem a 90% dos alimentos vegetais, a saber: milho, trigo, soja e arroz, respondendo a 70 do consumo e produção.

As consequências da “revolução verde” e do atual “desenvolvimento sustentável” já apontam suas consequências e perversidades nos últimos 30 anos: aumento de 75% das emissões de carbono; desperdício de 1,3 bilhões de toneladas de alimentos; mais de 1 bilhão de pessoas desnutridas e mais de 1 bilhão de obesos e uso de 70% da água consumida pela agricultura como nos recorda Luiz Carlos Pinheiro Machado em seu recente “Dialética da Agroecologia”.

Outra repercussão deste processo incide diretamente sobre a evolução da concentração da propriedade da terra no Brasil com relação aos imóveis rurais de 2003 a 2010, pois de acordo com dados do cadastro do Incra, a grande propriedade ocupava 214.843.865 milhões de hectares em 2003 e em 2010 este número sobe para 318.904.739 milhões de hectares, o que corresponde a um crescimento de 48,4% no período.

A pequena propriedade, no entanto, passa de uma ocupação de 74.195.134 milhões de hectares em 2003 para 88.789.805 milhões de hectares em 2010, o que corresponde a um crescimento de 19.7%. Essas informações explicitam o crescimento da concentração da propriedade da terra.

Além disso, 40 mil proprietários rurais, controlam 40% das terras e elegem 120 deputados federais, sendo que a agricultura familiar corresponde a 12 milhões de pessoas e elege apenas de 10 a 12 deputados federais, some-se à essas discrepâncias o fato de que o Ministério da Agricultura recebe 10 vezes mais recursos para cuidar do agronegócio que o Ministério do Desenvolvimento Agrário recebe para cuidar da agricultura familiar.

Principais diferenças entre a agricultura camponesa e o agronegócio[1]

 

A partir das informações explicitadas até aqui, comprova-se a extrema desigualdade que há entre dois modelos de desenvolvimento agrário que entram em conflito diretamente: o agronegócio e a agricultura camponesa. A segunda é a que possui menos acesso a créditos, ocupa menos terras agricultáveis no país, é a que mais contribui com a produção de alimentos e a que mais emprega trabalhadores no campo.

Como o Estado capitalista não é neutro e favorece os interesses da classe dominante é o agronegócio que terá mais incentivos fiscais, financeiros, comerciais, industriais e materiais à sua disposição.

A explicitação dessa contradição e dessas desigualdades, entretanto, não estão disponíveis de imediato a toda sociedade civil e até nisso o pensamento marxiano ajuda-nos a entender o porquê, já que, como nos ensina Marx, “toda ciência seria supérflua se a forma de manifestação – aparência – e a essência das coisas coincidissem imediatamente”.

Dessa forma, que possamos todos unir esforços para explicitar as desigualdades sociais presentes em vários e diversos âmbitos da vida social, através de dados empíricos e embasados, para que juntos tenhamos maiores condições de entender as engrenagens do capitalismo de modo científico, histórico, materialista e dialético e tenhamos as condições materiais e de consciência para a transformação social.

Capitalismo e agronegócio se apresentam como “salvadores”, como se fossem a única saída para a humanidade, contudo, mais do que nunca suas contradições (aliás, contradições essas que não restringe seus efeitos apenas à classe trabalhadora…) vêm colocando de modo cada vez mais claro sua insustentabilidade e incompatibilidade com a vida humana… Perante o extermínio capitalista, façamos avançar nossa ocupação rumo à liberdade!



[1] Disponível em: www.mst.org.br último acesso: Março de 2014.