A provocação dos golpistas e a resposta da Revolução

Relato do 6º dia (16/04/2013) do camarada Alexandre Mandl, enviado da Campanha “Tirem as Mãos da Venezuela” a Caracas:
Tensão: golpistas matam inocentes e provocam guerra. Mas chavistas respondem que “se querem guerra, terão, e fazem chamado às ruas”.

Três aspectos chamaram a atenção hoje.

Primeiro: golpistas assassinos!

A cidade amanheceu traumatizada com a morte de 8 jovens e trabalhadores, além de 61 feridos. Uma noite de violência, fruto do irresponsável chamado de Capriles à direita fascista, mas apoiado pelos EUA e sob a conivência da OEA.

Durante todo o dia as entrevistas e as imagens foram das famílias chorando, revoltadas, dizendo que não permitirão um golpe fascista e que morram inocentes e que tentem intimidar e calar a força que defende o processo revolucionário.

Alguns detalhes:

Eu vi a parte leste da cidade de Caracas em torno das 7h da manhã e o cenário de várias ruas era de guerra. Carros queimados, lixos nas ruas, vidros quebrados, pontos de ônibus destruídos, mostrando o desespero da direita, mas também o papel das Globos da vida, pois vi como foram parciais.

Com isso, durante o dia, houve concentração na Praça Bolívar em Caracas, e, depois, a juventude convocou concentração na UBV (Universidade Bolivariana de Venezuela).

Eu estive lá, vejam as fotos no Facebook, e fiz uma saudação em nome da juventude da Esquerda Marxista, da Campanha Manos Fuera de Venezuela e da Fábrica Ocupada Flaskô.

Depois, eu vi no fim da tarde tanques de guerra nas ruas, bem como caminhões com mísseis contra eventuais ataques aéreos, e havia informações de que a CIA estava organizando, junto com frotas marinhas, preparando condições para um golpe.

O ataque teve um corte de classe. Atacaram PSUV, VTV, CDI (centros de saúde nas favelas, atacando os médios cubanos), mercados populares, atingindo o povo mais pobre venezuelano. Trabalhadores e jovens sabem disso, e a resposta, disseram, também vai ser de classe. Uma consigna que ouvi na concentração da UBV era: “La revolución se hace con trabajo, estudios y fuzil”. Com bandeira da FMU (Frente da Milicia Universitaria), os jovens estudantes disseram que a “revolução es democrática y pacífica, pero armada”, “y que no se olviden, tomaremos las armas en defensa de la revolucion contra los golpistas”.

Recomendo a leitura do texto no link abaixo, que sintetiza o que houve hoje: http://tiremasmaosdavenezuela.blogspot.com.br/2013/04/venezuela-tentativa-de-golpe-de-estado.html

Ocorre que Maduro foi para a TV e disse que eles tinham acabado de “tombar” um golpe de Estado, que a CIA tinha tudo preparado e que apresentará as provas que estão terminando de juntar. Que é lamentável a atitude de Obama e que o silêncio da OEA mostra sua ineficiência.

Pressionado pela resposta dada pelos trabalhadores e jovens chavistas, por alguns setores de governos internacionais, e, dizem, que por alguns setores do empresariado venezuelano, além de rachas da direita, que vieram publicamente pedir a Capriles que reconheça o resultado e que evite uma guerra civil, Capriles foi à TV muito mais “light” do que estava e pediu paz, mas disse que as manifestações deles eram democráticas e sem violência. Fato esse que as fotos amplamente divulgadas mostram o contrário. Ele tinha dito até ontem “morte ao chavismo”, e agora está assustado. Sua família fugiu da Venezuela. O golpe estava montado.

Segundo ponto: desmascarado o golpe de fraude eleitoral

Capriles saiu pela manhã, apresentando um documento, mostrando na TV, uma ata de que havia votos diferentes, entre a lista de votantes, votos eletrônicos e votos impressos. Ele fez algo bizarro. Um erro infantil, induzindo, de forma baixa, uma fraude. Não foi um erro, mas uma tentativa de provocar uma mentira.

Imediatamente a presidente do Conselho Nacional Eleitoral apresentou que Capriles, de clara má fé, mostrava somente uma página da ata, de apenas uma mesa. E, claro, o número só bateria se ele mostrasse a segunda página. Caiu no ridículo.

A presidente da CNE pediu, mais uma vez, que Capriles aceite o resultado e que não fará a recontagem dos votos, porque já houve a auditoria que garante a constituição, e que não houve um sinal sequer de fraude.

Em seguida, o chefe do exército foi duro e recomendou que Capriles aceitasse o resultado, e que parasse de mobilizar contra o CNE.

Depois, o chefe de campanha de Maduro denuncia que o site oficial da Casa Branca estava organizando uma petição eletrônica de apoio ao pedido de recontagem dos votos.

Hoje, depois de tudo isso, a Espanha, que não tinha reconhecido o resultado, soltou uma nota oficial reconhecendo o resultado eleitoral.

Agora à noite, as contradições ficaram tão fortes que um “intelectual” de direita, veio à público para respaldar o CNE e dizer que é legítimo o resultado. Isso mostra como a direita está dividida e teve reais preocupações (com as questões econômicas) de consequências de um golpe.

A avaliação política que já tínhamos feito é que eles fariam isso, organizar uma resistência, com ações violentas, mas que isso duraria 4-5 dias, até eles mesmos cansarem, e que a principal luta viria mais adiante, dentro do chavismo e entre os reformistas e burocratas. Claro que a violência tida foi maior do que se previa, e, lamentamos profundamente as mortes que ocorreram.

Capriles tem que pagar essa conta. Foi irresponsável o que disse, convocando à violência dizendo “muerte al chavismo” e que para “saliren a las calles demonstrar su inquietud”, e ainda, de que “Descarge esa arechera em las calles”, algo como, “descarregem seu ódio nas ruas”.

A resposta, Capriles, será na rua. Mas, assim, com golpe, o povo está firme: No volverán!

O bom debate que alguns estão fazendo é mostrando que a via eleitoral tem muitos limites. E que “não podemos ficar refém dos votos”.

Terceiro ponto: ainda é cedo, mas há indícios à esquerda…

Maduro tem a cada dia um discurso mais à esquerda. E disse hoje que “entendí el recado de las urnas”. “Nosotros vimos el sabotaje en el sector elétrico y alimentício”. Para superar isso, precisaremos, ressaltou ele, “aprofundizar la revolución, y necesito del pueblo en la calle porque vamos nacionalizar todo el sector eletrico y vamos tener el control de la cadena productiva de alimentos, porque no podemos aceptar las sabotajes contra el pueblo venezuelano”.

Esse anúncio é um chamado à esquerda. E nas ruas ainda vi muita gente comentando isso, estando de acordo, e acrescentando que precisa não renovar a concessão da Globovisión, porque é fascista e que incentiva o ódio, reproduzindo o que a RCTV vez com o golpe de 2002. Exatamente agora, enquanto escrevo esse relato, a VTV exibe um documentário que mostra o papel da Globovisión.

Também houve estudantes que disseram que precisa nacionalizar os bancos, porque para combater a inflação e a especulação com o dólar, precisa expropriar os capitalistas.

Ou seja, pressionados pelo resultado eleitoral, e é certo que ainda é cedo dizer, mas há avanços, anunciando que vai buscar a estatização do setor elétrico e um maior controle da indústria alimentícia. Mas o alerta que avaliamos politicamente já está tendo bons resultados, juntando, inclusive, com a radicalização da luta de classes provocada por Capriles. Dizíamos que um refluxo eleitoral não quer dizer que é um refluxo da luta de classes, pode ser o contrário.

Vejamos esse ótimo artigo da Corrente Marxista Internacional – http://tiremasmaosdavenezuela.blogspot.com.br/2013/04/eleicoes-presidenciais-venezuelanas-uma.html

Vamos ver como as coisas seguem até sexta-feira, quando é a posse de Maduro diante da Assembleia e haverá uma grande concentração chavista, e, claro, lá estarei.

Últimas informações

Amanhã darei uma entrevista na VTV, e depois à tarde irei para Inveval, fábrica que está sob controle operário.

Na quinta, farei uma exposição sobre a história da Flaskô e nossa luta pela estatização sob controle operário, para trabalhadores do Ministério de Ciência e Tecnologia que está desenvolvendo um modelo produtivo com as empresas recuperadas na Venezuela.

Hoje estive com o vice-ministro de Ciência e Tecnologia, Guy Vernaez, contando a história do Movimento das Fábricas Ocupadas e nossa relação com o processo venezuelano. Alguns bons encaminhamentos foram dados.

Continuarei dando notícias…

Saudações,
Alexandre Mandl