A polícia expulsa moradores, bate, atira e mata camelô (porque o PT não chega a 10% em São Paulo)

Três soldados da PM faziam uma “ronda” entre os camelôs da capital. Um camelô é baleado e morre. E o PM que matou o camelô já tinha matado um morador de rua em “legítima defesa”. A juíza Eliana Melo determinou a soltura do PM, depois de ver as imagens, concluindo que o PM estava “em meio a populares aparentemente insatisfeitos com a presença da polícia”. (FSP e OESP, 23/09/2014).

No dia 16 de setembro a polícia cumpriu um mandado de “reintegração de posse” em São Paulo. Mais de 250 famílias foram brutalmente arrancadas de um prédio em que viviam no centro de São Paulo. O prédio é um dos antigos hotéis que foi abandonado no centro de São Paulo (Hotel Aquários). A decisão judicial repete a cena de sempre: famílias de sem-teto ocupam um imóvel abandonado; o proprietário que nem se lembrava deste, recorre prontamente à justiça; esta concede celeremente o direito à reintegração de posse; e a polícia chega com sua “cordialidade” costumeira para cumprir o mandado judicial.

O problema é que a “cordialidade” que a polícia mostrou de forma brutal no ano passado (junho de 2013) levou a uma raiva que estoura de tempos em tempos. Quando os ocupantes fecharam a porta do prédio e a polícia trouxe blindados para arrombar o prédio, a população em volta revoltou-se e começou a atacar a PM com tudo o que tinha à mão. O jornal O Estado de São Paulo do dia 17 de setembro fala que se juntaram moradores de rua, estudantes e outros vândalos para atacar a polícia. Sim, todos são “vândalos” que não reconhecem nesta PM qualquer coisa de sua e só vêem a sua face dura, os cassetetes, as armas, os tiros de bala de borracha, o gás lacrimogênio – de que todo comerciante reclamou.

É verdade, a força do povo ainda não foi suficiente para derrotar a polícia. É verdade, a violência descambou inclusive em dois saques de lojas de operadoras de celular (e quem não odeia as operadoras de celular que nunca funcionam quando mais se precisa delas e que sempre cobram tarifas exorbitantes?). Um ônibus foi incendiado para fazer barricada. Mas a verdade é que os “vândalos” não quebraram vitrines, não incendiaram lojas. E a única vitrine quebrada foi resultado de uma bala de borracha. O povo aprendeu e atacou quem realmente é responsável pela repressão e durante o dia inteiro o centro de São Paulo virou um palco de conflito com barricadas, pedras e tiros por parte da polícia.

Sim, 5 pessoas foram presas e merecem a nossa solidariedade. As acusações são as de sempre, mas quem acusará a polícia? Quem prenderá os responsáveis por botar na rua mulheres e crianças que precisam de teto?

Dois dias depois, três soldados da PM faziam uma “ronda” entre os camelôs da capital. Um camelô é baleado e morre. A história inicial contada pela PM de um “confronto” foi desmentida pelos vídeos. E o PM que matou o camelô já tinha matado um morador de rua em “legítima defesa”. Nova revolta e nova declaração do prefeito de que tinha sido um “caso isolado”. Só o prefeito? A juíza Eliana Melo determinou a soltura do PM, depois de ver as imagens, por haver concluído que o PM necessitava estar armado por estar “em meio a populares aparentemente insatisfeitos com a presença da polícia”.  (FSP e OESP, 23/09/2014).

Agora temos uma nova “desculpa” para a PM matar: estar em meio a populares insatisfeitos com a presença da polícia. E na próxima manifestação? Também a PM poderá matar os manifestantes que estiverem insatisfeitos com a sua presença? E em uma greve? Esta decisão se coaduna perfeitamente com outra dada pela justiça de SP que culpou um repórter por ter perdido um olho por disparo de bala de borracha numa manifestação. “Aparentemente” tanto estar insatisfeito com a presença da polícia é crime punível com a morte como cobrir a “insatisfação” é punível com a perda de um olho. E depois reclamam da aplicação do código islâmico, mas estas decisões não fazem a justiça retroagir exatamente à idade média onde todos somos culpados até provar (se pudermos provar) que somos inocentes?

Sim, bem “justo”!

E o PT com isso tudo?

A direção do PT está desesperada e querendo a todo custo reverter o baixo índice nas pesquisas, de Padilha, candidato ao governo do estado de SP. Mas, na guerra entre a polícia e o povo, o PT fica de que lado? Padilha declara no mesmo dia dos conflitos:

“Ações como essas precisam ser preparadas. A Polícia Militar sabe que nós temos não só movimento de moradia que depende do direito da moradia e o Estado executa metade dos recursos, mas a Polícia Militar sabe que temos vandalismo, temos movimentos outros que aproveitam de situação como esta para danificar patrimônio. A polícia tem que estar preparada para isso.” (Folha de São Paulo, 17/09/14).

Afora o português ruim, o interessante é que Padilha não defende o direito dos sem-teto, não defende que eles devam ter a sua moradia garantida, mas reclama que a polícia é ineficiente e reclama dos vândalos. Ora, se alguma coisa todos os jornais mostraram é que os “vândalos” não atacaram nem o patrimônio público, nem o privado, mas atacaram a polícia em solidariedade às famílias que estavam sendo despejadas. E quem destruiu propriedade privada foi a própria polícia ao despejar balas de borracha em uma vitrine. E este senhor quer ser o governador de São Paulo? Qual a moral deste senhor com os trabalhadores, os pobres, os estudantes que sofrem com a violência policial no dia a dia? Para fazer o que a polícia vem fazendo, Alckmin já serve! Para que mudar? A direção do PT está desesperada com os baixos índices do candidato? E o prefeito? O que diz o prefeito em quem a população votou para mudar tudo isso?

A Folha de São Paulo do dia 17 registra a declaração do prefeito do PT, Fernando Haddad:

“O que aconteceu foi o seguinte: por resistir ao cumprimento de uma decisão judicial, pessoas externas, estranhas ao movimento de moradia, se valeram da oportunidade para criar aquela situação que ninguém deseja. Isso é muito ruim, e o movimento tem que compreender que não deve deixar ser utilizado por esses oportunistas”.

Lembramos, além disso, que a Prefeitura já entrou com mandado de reintegração de posse de três imóveis públicos ocupados. Precisa dizer mais?

Sim, mulheres e crianças devem obedecer prontamente o que seu mestre mandar; os trabalhadores devem ficar quietos e ver a polícia bater, jogar gás lacrimogênio e não reclamar! E quem sabe ganhar um fusca no juízo final (Gonzaguinha)? Mas, afinal, a prefeitura nada tem a ver com moradia?

“Não tem cabimento resistir à decisão judicial. A decisão judicial foi tomada, foi dado o tempo, os meios foram colocados à disposição, os abrigos foram colocados à disposição”, disse Haddad.

Ele afirma que procurou negociar a desapropriação do edifício da av. São João para habitação previamente, mas que a prefeitura não tinha recursos para pagar o valor fixado pelo imóvel na Justiça.

“Sairia em torno de R$ 40 milhões, um valor extremamente exorbitante e incompatível com as possibilidades da prefeitura. Estamos investindo R$ 500 milhões em desapropriações, mas para produzir 55 mil moradias. Não posso gastar R$ 40 milhões com um único prédio”, disse.

Como assim, Senhor Prefeito? 40 milhões? E porque aceitamos este valor dado pelos proprietários, porque a prefeitura não se coloca ao lado dos sem-teto ao invés de mandá-los para abrigos sem condições? Afinal, seria demais esperar de prefeitos e vereadores do PT que fizessem o que faziam deputados e vereadores do PT há mais de 30 anos, quando se colocavam no meio de passeatas, de greves e manifestações, não é? Hoje é melhor estar no clube de regatas Tietê e dar entrevistas em local aprazível falando dos “vândalos” que sofrem e morrem na mão da polícia.

Os trabalhadores, os jovens, fizeram uma tentativa tirando a prefeitura do PSDB e passando para o PT. Mas o prefeito e a direção do PT nada mais fazem que repetir as velhas cantilenas do PSDB. Assim, como estranhar que Padilha tenha só 10% nas pesquisas eleitorais?

E no Rio, Lindbergh fica aonde?

Enquanto Garotinho repete a cada minuto na TV que vai anular a privatização do Maracanã, Lindbergh afirma na sabatina feita por O Globo (17/9/14) que vai fazer uma auditoria e não vai romper contratos. Isso para pegar o mais escandaloso. Também declara que tem muita gente boa no PSDB que poderia fazer parte do seu governo! Enfim, repete o velho discurso de Marina de governar com as pessoas “de bem”. E tá ai: também não passa de 10% nas pesquisas. Afinal, do manifesto original do PT que falava em estatizar sob controle dos trabalhadores os setores econômicos importantes, restou somente… pó! Da oposição ao PSDB em defesa do “nosso (deles) projeto” sobrou a necessidade de pegar as pessoas de bem do PSDB. E quer depois disso subir para mais de 10%?

Novas pesquisas?

A “nova estratégia” do comando do PT para barrar Marina é “bater sem dó nem piedade”, mas sem comprometer-se um centésimo sequer com os direitos dos trabalhadores. Os jornais relatam que há divergências sobre a divulgação do programa do PT porque a candidata recusa-se a comprometer-se com a diminuição da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais e com o fim do fator previdenciário. Assim, Dilma bate, mas pode acabar é levando de volta porque os trabalhadores engolem seco frente a esta candidata que nada de bom lhes promete.

A Esquerda Marxista continua o seu combate por um governo socialista dos trabalhadores. Defendemos o direito dos moradores sem-teto de ocupar e transformar em moradia os prédios abandonados de São Paulo. Defendemos a liberdade dos cinco que foram presos para serem inculpados pela violência policial na “reintegração” de posse que expulsou mais de 250 famílias de suas moradias no Centro de São Paulo. Defendemos o PL 7951/2014 – projeto de lei que anistia todos os que participaram de greves e de movimentos com este. Exigimos a punição do policial que assassinou o camelô em SP!

Relembramos, às vésperas dos 150 anos de fundação da 1ª Internacional, do velho lema levantado: “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”. É para ajudar nisso que nos construímos e convidamos a todos a conhecer nossas ideias e nossas propostas.