A luta para por fim à violência contra as mulheres deve ser uma luta anticapitalista

Conheça o panfleto distribuído pela corrente “Lucha de Clases”, seção da CMI na Espanha, na “marcha contra a violência machista”, que reuniu cerca de 100 mil pessoas em Madri.

Este texto foi escrito originalmente por “Lucha de Clases”, seção da Corrente Marxista Internacional na Espanha.

Trata-se de um panfleto distribuído no último 7 de novembro na “marcha contra a violência machista”, que reuniu cerca de 100 mil pessoas em Madri (ver foto). PODEMOS e outras forças políticas de esquerda compuseram a manifestação. 

A violência machista é uma chaga deste sistema que atinge fundamentalmente as mulheres da classe trabalhadora e em situação econômica mais vulnerável. Sustenta-se no fator cultural e moral do patriarcado, que considera o homem superior à mulher. Isso tem sido agravado pelo sistema capitalista, onde o direito de propriedade alcança seu máximo valor moral e se estende à vida familiar e conjugal, com a mulher sendo considerada como propriedade do homem.

Toda violência machista é um ato bárbaro e covarde, reflexo consciente ou inconsciente de um desprezo pela dignidade humana, uma violência que abusa da força física ou do sentimento de “superioridade” moral que outorga essa sociedade patriarcal.

Contudo, repudiamos a indignação hipócrita e criminosa daqueles que condenam a violência machista, enquanto aprovam a violência sobre a maioria da humanidade através da exploração no trabalho, as demissões, os despejos, os cortes nas áreas sociais, a perseguição aos imigrantes. São os mesmos que apoiam e promovem guerras imperialistas, que assassinam milhares de pessoas de acordo com os interesses do “ocidente”, na verdade o interesse dos bancos e multinacionais. Toda essa gente está situada nas classes sociais parasitas, sejam homens ou mulheres. Estão todos juntos, seja Obama, Rajoy, Ángela Merkel, Esperanza Aguirre ou Felipe González.

Sem dúvida, uma sociedade sustentada na violência e na barbárie cotidiana aplica suas piores chagas no seio da família. As pressões que sofrem muitos indivíduos no âmbito do trabalho, nas suas condições precárias de vida, convertem-se em violência sobre as mulheres de seu entorno, por muitas vezes com consequências fatais. Esta situação se agrava quando se combina com os demais flagelos sociais, como a dependência de drogas, a miséria extrema e a marginalização social.

O Estado se mostra completamente ineficiente para combater essa situação. Muitas vezes são os juízes ou a polícia que ignoram as denúncias e queixas das vítimas pelos seus mais variados preconceitos machistas e depreciativos contra as mulheres da classe trabalhadora, imigrantes ou pobres. A mulher que denuncia a violência machista carece muitas vezes de assistência psicológica e enfrenta a solidão e a incerteza de suas condições de vida, sem moradia própria, às vezes sem um trabalho que lhe permita uma independência econômica e/ou sobrecarregada pelo medo ante o destino de seus filhos.

Toda mulher vítima de maltrato físico e psicológico, sem independência econômica, deveria receber auxílio do Estado, incluindo garantia de moradia e emprego digno, e, tendo filhos, as condições de cuidar adequadamente deles. As leis aprovadas pelos sucessivos governos não possuem validade para mudar de fato a atual situação, a qual só é possível mudar com um aumento significativo de recursos públicos para atender as necessidades que mencionamos e que os governos da direita e do ajuste jamais aceitarão.

Terminar com a violência machista é uma parte indissolúvel da luta por terminar com a violência social e a moralidade de classe produzida pelo sistema capitalista. Restituir a posição social da mulher à sua devida altura passa, em primeiro lugar, por garantir a completa independência econômica. Tampouco se pode lutar contra a opressão da mulher sem reduzir à sua mínima expressão as chamadas “tarefas do lar” no seio familiar. Essas tarefas pesadas, rotineiras e embrutecedoras, desgastam física e moralmente, muitas vezes, as mulheres da classe trabalhadora.

A única maneira de libertar a mulher trabalhadora destas tarefas domésticas passa pela socialização e transferência destas mesmas tarefas à comunidade, ao Estado.

Uma sociedade verdadeiramente preocupada com a libertação da mulher disponibilizaria creches e jardins de infância suficientes e bem estruturados em cada centro de trabalho e bairro. Estabeleceria grandes lavanderias públicas nas ruas, refeitórios públicos em cada centro de trabalho, bairro, escola e universidade, onde se ofereceriam refeições sadias e variadas. E tudo com um preço de custo. Isso não deve ser levado pelo setor privado, preocupado em roubar dos bolsos de famílias trabalhadoras e que oferece serviços deficientes. Cabe às prefeituras, comunidades autônomas e ao Estado central. Claro, os governos atuais e os grandes empresários não querem nem ouvir falar disso, rejeitam claramente que o dinheiro público seja destinado a esses “pormenores”, porque para eles é um delírio, não gera lucros. Por isso a direita e os grandes empresários são os mais interessados em manter a escravidão da mulher nas “tarefas do lar”. Também há uma razão política e social que reforça o interesse da classe dominante no trabalho doméstico da mulher trabalhadora. Carregar nas costas de todo o conjunto familiar toda a pressão do sistema (alimentação, limpeza, cuidado dos filhos, cuidado dos anciãos, entre outras), é uma maneira de levantar obstáculos poderosos que dificultam a luta, a organização, a participação política e no desenvolvimento cultural de famílias operárias.

É por tudo isso que a luta pela libertação da mulher e contra a violência machista, para que seja profunda e verdadeira, deve ser parte de uma luta anticapitalista e socialista. Uma luta que deve estar intrinsecamente ligada com a eliminação do poder dos capitalistas, com a expropriação dos bancos, das grandes empresas e latifúndios sob controle dos trabalhadores, com a finalidade de planificar democraticamente a economia e resolver os mais urgentes problemas sociais e culturais. Esta será a única maneira de construir as bases de uma sociedade autenticamente humana que varra, junto com a propriedade dos meios de produção nas mãos de um punhado de parasitas, esse resquício de um passado bárbaro que é a sociedade patriarcal.

A corrente marxista Lucha de Clases está empenhada nesta tarefa! Una-se à nossa luta!