A intervenção dos marxistas na Venezuela

A batalha dos trabalhadores dentro do PSVU para se construir um partido operário independente.

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), dirigido pelo presidente Hugo Chávez, está realizando seu Congresso Nacional. Esse partido tem 7 milhões de filiados, num país de 24 milhões de habitantes. Participaram das plenárias de base, que elegeram os delegados ao Congresso Nacional, 2,9 milhões de militantes. É como se o PT tivesse cerca de 50 milhões de filiados e nas eleições internas participassem 20 milhões de filiados em plenárias de base.

Uma aguda luta política se trava dentro do PSUV. Reformistas e burocratas se enfrentam a militantes e quadros operários pelo controle do PSUV. A base operária luta por definí-lo como um partido de classe, socialista e revolucionário, um partido independente da burguesia que seja um instrumento na luta para aprofundar a revolução socialista na Venezuela.

Depois de 30 anos se reproduz hoje na Venezuela um fenômeno do mesmo tipo que deu origem ao PT. Também aí, reformistas, ex-stalinistas e burocratas propunham que o PT fosse definido como “partido de toda a sociedade”. Contra esta posição lutaram os militantes operários e socialistas do partido que impuseram a concepção de “partido de classe”, o PT sem patrões, classista e socialista. Esta é a concepção que foi inscrita no Manifesto de Fundação e na Carta de Princípios do PT.

Essa é uma luta política extraordinária que se trava entre estas duas forças. Burocratas e reformistas por um lado e os melhores militantes da classe trabalhadora do outro, ambos tentando controlar e definir o caráter desse partido. O PSUV pode se construir como um partido operário independente ou ser uma criatura de sustentação da ordem. E do resultado dessa luta depende em grande parte o futuro da revolução venezuelana.

Não é demais dizer que todas as pequenas seitas esquerdistas ou oportunistas, assim como o Partido Comunista da Venezuela, estão todos fora do PSUV, atacando-o de toda a forma. São incapazes de compreender o surgimento de um partido de massas e como os trabalhadores se relacionam com seus dirigentes e organizações.

A seguir publicamos trechos da contribuição dos marxistas venezuelanos para o Congresso do PSUV.

Para mudar a vida, acabar com o capitalismo: PSUV socialista e Internacionalista! PSUV sem patrões nem burocratas!

Defendemos neste congresso o reimpulso do PSVU e sua construção como partido da classe trabalhadora, internamente democrático, revolucionário nas ações, socialista na prática e internacionalista na organização.

A partir disso, apresentamos nossa contribuição por um PSVU que seja nossa força e nossa voz na luta de classes e na revolução venezuelana. Um partido forte é aquele em que a vontade e as idéias dos militantes podem se expressar. Onde a base controla a direção e a revoga se ela não corresponde às decisões adotadas pelos filiados. Um partido forte é aquele onde as decisões são tomadas após ampla e democrática discussão desde a base e, depois, são cumpridas pelos dirigentes.

Estamos vivendo momentos de profundos enfrentamentos sociais, políticos e militares. O sistema capitalista está em uma profunda crise em nível mundial. A revolução bolivariana tem significado o despertar das massas não só na Venezuela, mas na América Latina e no mundo. Desde a chegada do presidente Chávez ao poder, milhões de pessoas em vários países do nosso continente despertaram ativamente para a vida política e social, tratando de tomar o seu destino com as próprias mãos.

Fazemos nossas as afirmações do camarada Chávez de que é preciso ser marxista, construir uma Internacional revolucionária para acabar com o capitalismo em todo o mundo e de que os responsáveis pela situação trágica que vivemos é a burguesia, inclusive quando se veste de vermelho para tentar salvar seu capital e frear a Revolução. O PSUV deve adotar estas definições em seus documentos congressuais.

A greve-sabotagem patronal de 2002-2003 mobilizou a ampla maioria da classe trabalhadora do país. A partir desse momento as ocupações de fábrica passaram a ser algo cotidiano. Foi aí que se enterrou a traidora CTV e nasceu a UNT, expressando a vontade de independência de classe das massas trabalhadoras. (…)

O PSVU deve ser o partido da classe operária e do povo. A primeira tarefa do PSVU é lutar em defesa das reivindicações imediatas dos trabalhadores do campo e da cidade. Terra para os trabalhadores rurais sem terra, emprego e salário digno para os trabalhadores. O objetivo de nosso partido hoje tem que ser o de completar a revolução venezuelana e acabar com o regime capitalista de propriedade privada dos grandes meios de produção. É hora de construir o nosso próprio mundo, sem oprimidos e sem explorados, um mundo socialista.

Para superar a crise do capitalismo é preciso tomar medidas socialistas

(…) A burguesia não joga nenhum papel progressista em nenhum lugar do mundo, muito menos na Venezuela. Desde a chegada do presidente Chávez ao governo, a única coisa que os empresários venezuelanos têm promovido é o caos, desabastecimento, conspirações e golpes de estado e redução de investimentos. Os capitalistas estão intimamente ligados ao capital imperialista e, portanto, é impossível que possam desenvolver a Venezuela. (…)

A única alternativa é nacionalizar o conjunto da economia: os bancos, a indústria e a terra, para colocá-los a serviço dos interesses da população. Estabelecer o monopólio estatal do comércio exterior para acabar com a pilhagem e o saque do país. Decretar a inconvertibilidade do bolívar forte para acabar com toda especulação e inflação. (…)

O PSUV deve organizar e mobilizar contra o Estado burguês e seus burocratas, para construir um Estado socialista

Para organizar o PSVU como uma força capaz de derrotar definitivamente os capitalistas é preciso, em primeiro lugar, garantir nossa independência de classe, manter vivos nossos objetivos socialistas e defender cada uma das conquistas e reivindicações do povo trabalhador.

É necessário construir um novo aparato de estado dos trabalhadores, baseado firmemente na democracia operária. É o que temos constatado claramente nestes anos de revolução bolivariana. Burocratas e arrivistas, do velho aparato de estado, se alojam em todas as frestas do estado bloqueando a iniciativa revolucionária das massas.

Só um estado assim organizado poderá planificar a economia de conjunto e fazê-la funcionar segundo os interesses de todo o povo oprimido e explorado.

Partido, programa e ação

Queremos mais moradias, hospitais, escolas, centros de recreação e benefícios para os trabalhadores? Que se nacionalizem todos os bancos! Só no ano passado os banqueiros embolsaram mais de 2 bilhões e 615 milhões de dólares, enquanto temos um déficit brutal de moradias.

Queremos manter e criar mais postos de trabalho? Nacionalizemos a indústria. Começando pelas multinacionais que perseguem trabalhadores e sindicalistas como a Mitsubishi, Toyota e outras. Nacionalizemos imediatamente todas as empresas ocupadas por seus trabalhadores. Os industriais têm mostrado seu caráter parasita durante os últimos anos do governo do presidente Chávez, até levar à quase paralisação da indústria.

Queremos ter alimentos para todos? Nacionalizemos a terra e façamos a Reforma Agrária. Nacionalizemos imediatamente Polar e todas as redes de produção, abastecimento e distribuição de comida.

Se quisermos resolver o problema da eletricidade no país, se quisermos resolver o problema da assistência médica, é necessária a planificação da economia e o controle operário. (…)

O capitalismo não pode ser regulado. A única alternativa concreta é a nacionalização da terra, dos bancos, da agroindústria e das grandes redes de supermercados, controlados pelos conselhos comunitários e conselhos operários.

Se quisermos ganhar a maioria da Assembleia Nacional devemos dar passos contundentes contra a burguesia e satisfazer imediatamente as necessidades mais sentidas do povo.

Um governo do PSVU apoiado na UNT, na Frente Camponesa Ezequiel Zamora e nas organizações populares teria capacidade e força para acabar com a especulação financeira, decretar o monopólio do comércio exterior e tomar medidas de planificação da economia em interesse do povo. Este é o ponto chave para ganhar a maioria na Assembleia Nacional.

A maneira mais eficaz de combater o perigo de uma agressão imperialista é, por um lado, a criação de uma milícia revolucionária em cada fábrica e centro de trabalho, em cada paróquia e conselho comunitário. “Em cada empresa tem que haver um batalhão operário… Com os fuzis ali, ao lado, para o caso de alguém se equivocar conosco”, como explicou o camarada Chávez.

Construir uma verdadeira Internacional! Construir um mundo sem opressão e exploração!

Por outro lado, a revolução bolivariana tem sido um exemplo e uma fonte de inspiração para milhões de trabalhadores, jovens e camponeses de todo o mundo. É preciso fazer um claro chamado internacionalista, anticapitalista e socialista aos proletários do mundo para que sigam o caminho da revolução socialista em seus próprios países.

A melhor garantia para defender a revolução é estender a revolução socialista à America Latina e ao mundo inteiro e, isso só é possível com uma política exterior revolucionária baseada na solidariedade com trabalhadores e suas organizações que lutam por sua emancipação em todo o mundo. Construir uma verdadeira Internacional Socialista Revolucionária.

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