A greve geral de 28/4 e a continuidade da luta

O medo de Temer e o bloqueio das direções

A nota de Temer sobre o dia 28 traduz todo o medo dele e da burguesia:

“Infelizmente, pequenos grupos bloquearam rodovias e avenidas para impedir o direito de ir e vir do cidadão, que acabou impossibilitado de chegar ao seu local de trabalho ou de transitar livremente. Fatos isolados de violência também foram registrados, como os lamentáveis e graves incidentes ocorridos no Rio de Janeiro”.

Sobre os “incidentes” no Rio, comentaremos depois. Mas a verdade é que o governo como um todo procura desqualificar que existiu uma greve. Apenas “pequenos grupos” na linguagem da nota de Temer, “sindicalistas”, “centrais sindicais”, “burocracia sindical e ativistas”, na linguagem de outro colunista que se atreveu a criticar a greve e nos editoriais dos três maiores jornais do país (Folha, Estado e O Globo). O que o governo não quer admitir, admite o comando da PM.

Em matéria do jornal O Estado de São Paulo do dia 29, intitulada “Comando da PM vê uso da tática de guerrilha urbana”, na qual o comando reclama que os manifestantes que fecharam ruas nunca aceitavam o confronto, simplesmente iam embora quando a polícia chegava e mudavam de local. Mas a polícia conseguia se deslocar rápido porque as ruas estavam vazias. O Estadão relata:

O protesto das centrais provocou outro efeito: o mapa da lentidão do trânsito na cidade feito pela Companhia de Engenharia de Tráfego ficou próximo de zero das 10h30 às 16 horas, mais de 80% abaixo da média inferior de congestionamento registrado nas sextas-feiras.

O trânsito também ajudou as forças de segurança, diminuindo o tempo de reposta da PM. “O resultado foi bom. Tínhamos como objetivo impedir o fechamento das ruas em São Paulo e não se manteve fechada nenhuma rua. Era o tempo de a unidade de serviço chegar, requisitar apoio, quando necessário, e desobstruir a pista.”

Este relato mostra que os “bloqueios”, pelo menos em São Paulo, não serviram para nada, além das fotos e vídeos. Se os bloqueios não funcionaram (e a PM de São Paulo atesta isso), porque não havia congestionamento, a ponto do comandante da PM chegar uma hora adiantado no local onde se previam conflitos? Por um motivo simples: os trabalhadores, inclusive os que vão de carro ao trabalho, aderiram à greve! Por isso não havia engarrafamentos e o trânsito fluiu normalmente. E qualquer um que tenha um neurônio na cabeça sabe disso e o medo da burguesia é bem real. Afinal, muitas fábricas metalúrgicas do ABC e de São Paulo pararam. Os trabalhadores do transporte (ônibus, metrô e trem) pararam. Os professores pararam. Os bancários pararam. E isso no país inteiro. O medo da greve paira sobre a burguesia e ela tenta suas duas cartadas: a cooptação e a repressão.

A cartada da cooptação tem seus problemas. Afinal, as manifestações aconteceram apesar da orientação da CUT de todos ficarem em casa. E na Força Sindical, cujo “partido”, o SD de Paulinho faz parte da “base” de Temer no Congresso, tem uma coluna gritando “Fora Temer” durante o ato em São Paulo, com todos uniformizados. Realmente, a base está indo muito mais longe do que pensam os dirigentes e o que é preciso é organizar esta base para que ela tenha voz e possa tomar sua própria decisão.

O que é preciso

Ato de 28/4 em Bauru

A orientação geral da CUT era a de parar e ficar em casa. Nas grandes capitais (Rio e São Paulo), os atos foram menores que no dia 15 de março. Os jornais fizeram desaparecer as grandes manifestações que aconteceram, como em Belo Horizonte e Recife. Cidades do interior também tiveram atos significativos. O outro exemplo que tivemos foi o de Santa Catarina, onde o ato aconteceu apesar da maioria da direção da CUT.

Para entender isso, é necessário lembrar o exemplo que foi dado pelo Sintrasem de Florianópolis, o sindicato dos servidores municipais, com militantes da Esquerda Marxista em sua direção. Eles derrotaram um pacote de medidas enviado pelo novo prefeito no começo do ano e fizeram isso porque a direção convocou uma greve de todos os servidores e a organizou de tal forma que todas as decisões foram tomadas com amplo apoio da base e terminou com uma vitória e o recuo do prefeito.

Ato de 28/4 em Florianópolis

Assim, quando se preparou o dia 28 em Florianópolis não havia no princípio uma manifestação marcada. O Sintrasem decidiu que de manhã faria piquetes em seus locais de trabalho e convocaria a base para um debate à tarde, centralizado pelo sindicato, em praça pública. A base, por outro lado, nas assembléias preparatórias, pedia que se convocasse um ato. A direção decidiu então que o debate aconteceria das 14h às 16h e depois sairia em manifestação. Outra atividade de concentração foi marcada pelas centrais para as 16h.

O Sindicato realizou seu debate com a presença de 500 pessoas e saiu em passeata, aglutinando mais de 2 mil pessoas no caminho. Quando chegou na manifestação das centrais, a junção dos dois atos tinha mais de 3 mil pessoas. A direção do ato queria continuar ali. A direção do Sintrasem, seguindo a decisão de sua base, propunha uma passeata. Frente ao impasse, a direção do Sintrasem colocou em votação: ato parado ou passeata? A maioria absoluta votou pela passeata. A direção das centrais criticou a votação. E a passeata saiu, aglutinando mais de 20 mil pessoas pelas ruas de Florianópolis, fechando toda a cidade. Algo semelhante se passou em outra cidade catarinense, Joinville (ver aqui).

Manifestação em Joinville

O exemplo que a direção do Sintrasem dá, de colocar o poder nas mãos da base, é o que propõe a Esquerda Marxista ao pedir que a CUT e demais centrais convoquem um Encontro da Classe Trabalhadora que decida os rumos e as formas que o movimento deve tomar para derrubar Temer, o Congresso Nacional e bloquear todas as suas reformas.

A direção da CUT fala em convocar todos para o dia de votação da Reforma da Previdência no Congresso. Mas nem o governo sabe que dia será a primeira votação na Comissão, quanto mais em plenário, ainda mais quando o governo tem cada vez mais dúvidas de passar a reforma. Uma forma de pressionar o Congresso e juntar a base é convocar o Enclat o mais rápido possível, para Brasília. E propor que todas as Centrais se juntem nesta convocatória, que todas as frentes e movimentos populares se juntem nesta convocação. Mas a direção da CUT parece que foge da base como o diabo foge da cruz.

“Não acabou! tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar”

Dizem que ela existe

Pra ajudar!

Dizem que ela existe

Pra proteger!

Eu sei que ela pode

Te parar!

Eu sei que ela pode

Te prender!

Titãs

A quinta feira dia 27 começou com uma notícia que começa a ficar corriqueira no Rio: motoqueiros passaram em ruas de um bairro e mandaram fechar as lojas. E como declarou um lojista para o jornal O Globo – se até o supermercado fechou, porque eu ficaria aberto. As ruas vazias. Greve? Na disso, o comércio fechou porque um chefe do tráfico morreu e os traficantes resolveram “homenagear” o falecido. E isto aconteceu na Tijuca. A Polícia Militar sumiu e todos saíram da rua em um dos bairros mais tradicionais do Rio!

Repressão no Rio de Janeiro

Isto não aconteceu assim, por acaso. Afinal, o fracasso da política das UPP que culminou com a saída de Beltrame da Secretaria de Segurança aumentou a “guerra” do tráfico no Rio. E a população sofre. As notícias de jovens que morrem pelas balas da polícia se repetem a cada dia. Na guerra, morrem principalmente os jovens e, dentre estes, os jovens negros. Até na escola morrem, como mostrou o caso da menina morta por bala de fuzil da polícia.

Os mortos por “autos de resistência” aumentaram mais de 96%! Mais de 120 mortos em 4 meses. Do outro lado, mais de 61 PMs mortos no mesmo período! Só no mês de março, foram 651 mortos por bala. Este é o resultado.

Mas existe o outro lado. Para “conter” manifestações a polícia está muito bem preparada. O número de bombas que voou para conter a manifestação não pôde ser contado. As balas de borracha foram muito bem empregadas. Ou seja, a polícia mata, a polícia morre, a polícia dissolve manifestação. Aplicar a lei, para a PM, é isto. Matar, morrer, bater indiscriminadamente. (Vídeo da repressão)

A verdade é que não existe uma solução “democrática” que resolva isto. O Estado dissolve-se frente ao tráfico de drogas e a crise econômica que continua a grassar. A resposta dos comunistas é que a classe trabalhadora precisa tomar em suas mãos a sua própria segurança, que é ameaçada pelos grupos de criminosos e pela policia. Faz muito tempo que os bandidos que “pertenciam à comunidade”, “defendiam a favela” saíram de cena e entraram em cena os crimes violentos e a exploração de todos, a opressão sobre famílias e sobre os trabalhadores. Morre-se sob a bala dos criminosos, morre-se sobre as balas da polícia, apanha-se da policia nas manifestações em que esta, cada vez mais, mostra a sua real face de truculência.

O aparato repressivo tenta intimidar os trabalhadores, mas estes não aceitam a violência da polícia e cedo ou tarde o seu tamanho e organização vão se impor. Métodos estranhos à classe, como barricadas sem massa organizada, pneus queimando e poucos guardando os pneus, trancamento de ruas sem massas, desaparecerão como vento frente às massas que marcharão nas ruas, como fizeram no dia 15 e ensaiaram fazer no dia 28, apesar da desorganização das manifestações e da falta de apoio explícito das centrais.

O grito dos jovens de 2013, exigindo o fim da PM crescerá junto com os instrumentos da classe trabalhadora de sua própria auto defesa.

Próximos passos

Liberdade e Luta no ato em São Paulo

A CUT fala em manifestação em Brasília na data da votação da Reforma da Previdência. Mas é preciso muito mais que isso. A Esquerda Marxista alerta que na Grécia, quando foram feitas as “reformas” aconteceram 35 greves gerais (!) e pararam quase tudo. Mas, igual a do Brasil, foram de 24h ou 48h. É preciso mais que isso para barrar as reformas.

O caminho que vários sindicatos já tomaram mostra o que deve ser feito: a greve para quando as reivindicações são atendidas. Mais que isso, é preciso dar palavra à base, é preciso dar à base o direito de decidir o seu próprio movimento. Por isso o nosso combate por um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, que reúna todos os sindicatos, as centrais, todos os movimentos sociais e decida o que fazer para botar pra fora Temer e o Congresso, para barrar suas reformas.

Este é o combate da Esquerda Marxista. Junte-se a nós nesta luta!