Foto: Daniel Teixeira

A caravana de Lula e os atentados da direita

Na última segunda-feira (26 de março) o Tribunal Regional Federal da 4ª região recusou os recursos apresentados pela defesa de Lula, reafirmando a condenação em segunda instância e a pena de 12 anos e 1 mês de prisão.

A execução da pena a partir da condenação em segunda instância foi uma “inovação” aprovada pelo STF em 2016, tratando-se de mais um caso de abuso do Poder Judiciário. Agora, diante da iminente prisão de Lula, o STF encontra-se dividido, incluindo bate-boca entre ministros, expressando a própria divisão na burguesia. A decisão final do habeas corpus de Lula, que questiona justamente a constitucionalidade do cumprimento da pena após a condenação em segundo grau, foi adiada para 4 de abril. Enquanto isso, o STF aprovou uma liminar que impede a prisão do ex-presidente, decisão que desagradou majoritariamente a burguesia.

Lula, por sua vez, continua dizendo que acredita na democracia e na justiça, como afirmou na entrevista à Folha de SP no início de março. No entanto, o caso é que a burguesia decidiu acabar com o período de colaboração de classes, Lula e PT perderam a serventia por não conseguirem mais controlar as massas, o que ficou evidente a partir de junho de 2013.

A caravana de Lula pela região Sul do país, nas últimas semanas, foi hostilizada por grupos de direita e de extrema-direita. No dia 20, na cidade de Santa Maria (RS), indivíduos munidos de artefatos explosivos, pedras e socos-ingleses tentaram impedir que a delegação chegasse ao seu destino e no dia 23 a caravana foi impedida de chegar à cidade de Passo Fundo (RS) por um bloqueio na estrada conduzido por setores do agronegócio gaúcho. No mesmo dia, começou a ser vendida na internet uma camiseta com a imagem de Lula degolado. Na última terça-feira (27 de março), dois ônibus da comitiva foram atingidos por quatro tiros, próximo à cidade de Quedas do Iguaçu, no Paraná.

As declarações iniciais dos líderes burgueses sobre esses episódios propiciaram a esses grupelhos a sensação de que têm liberdade para seguir com este tipo de ação. O Ministro da Defesa (Raul Jungmann) lavou as mãos e disse: “sempre que sou solicitado e que acontece esse tipo de confronto eu procuro as autoridades estaduais para pedir atenção para o caso. Então é uma praxe, eu diria assim, é uma norma que eu tenho seguido quando essas coisas acontecem”. O candidato a presidente Geraldo Alckmin, declarou que “eles (os petistas) estão colhendo o que plantaram”. E claro, Bolsonaro não poderia deixar de se pronunciar, disse que “Lula quis transformar o Brasil num galinheiro, agora está por aí colhendo ovos por onde passa”. Após a reação contrária a esse tipo de declaração, Alckmin, Temer, Jungmann, Meirelles, Rodrigo Maia, etc., assim como os grandes meios de comunicação, passaram a condenar estas ações e se colocar como defensores da democracia.

A Esquerda Marxista se opõe à política de Lula e do PT. Durante os governos petistas ataques foram realizados contra a classe trabalhadora, fruto da aliança com a direita e da submissão à classe dominante e ao imperialismo, incluindo a adoção de métodos corruptos de governo da burguesia. Ao mesmo tempo, consideramos que quem tem o direito de julgá-los por seus crimes é a própria classe trabalhadora, não uma justiça que tem interesses políticos burgueses em levar uma condenação sem provas.

Por isso também repudiamos as ações desses grupos de direita e extrema-direita contra a caravana, utilizando-se de métodos fascistas contra militantes de esquerda. Não participamos dessa caravana, pois a candidatura do PT não oferece nenhum futuro à luta da classe trabalhadora, mas defendemos o direito dela ocorrer, assim como defendemos o direito de Lula ser candidato.

Tais episódios aconteceram logo após a execução da vereadora Marielle do PSOL. Duas semanas depois do assassinato, nada foi apurado e o pedido de investigação independente feito por várias personalidades a nível mundial não é respondido, nem é apoiado pelo PT. No Rio de Janeiro, a quantidade de assassinatos nos bairros populares cometidos pelas milícias ou por PMs aumentam. Assim, se os assassinos de Marielle seguem tranquilos, uma parte da burguesia e da pequena burguesia se aventura a atirar contra a caravana de Lula. Enquanto a resposta de Lula e do PT foi pedir “proteção” ao comando da PM do Paraná, justamente onde o comandante é um dos que contribuíram para difamar Marielle.

Cabe explicar que tal situação, em que grupos de extrema-direita e milícias ligadas a latifundiários sentem-se à vontade para atacar militantes de esquerda, é consequência também da submissão do PT durante seus governos, que foi condescendente com o agronegócio e o assassinato de sem-terras. Mesmo diante de um discurso do deputado federal Eduardo Bolsonaro, em 2014, com arma na cintura, incitando o assassinato de Dilma, nada foi feito pela então presidente ou pelo PT, assim como nenhuma iniciativa política séria foi convocada quando dirigentes do partido foram condenados e presos sem provas no chamado julgamento do Mensalão.

E se por um lado a polarização social faz com que grupos de direita apareçam com maior evidência, não estamos de acordo com o discurso de que há uma iminente ameaça de um regime fascista no país. Não existe base social para isso e essa não é a opção da burguesia e do imperialismo no momento. Portanto, também não estamos de acordo com os que se utilizam desta tese para justificar uma unidade em torno do PT para defender a democracia.

A ofensiva da burguesia para retirar direitos e conquistas da classe trabalhadora enfrenta-se com a disposição de luta presente na base. Isso é o que vimos com o repúdio à execução de Marielle, que levantou manifestações massivas de contraposição aos governos, à intervenção federal no RJ, à Polícia Militar. O que também foi visto na vigorosa greve de professores e servidores da cidade de São Paulo, com mais de 90% de adesão e manifestações seguidas com mais de 100 mil pessoas, que fizeram a Câmara de Vereadores recuar e impuseram uma derrota ao prefeito Doria.

A luta conta a direita e a extrema-direita, contra a criminalização e a repressão aos movimentos sociais, contra as mortes de jovens nas favelas e bairros populares, só pode ser vitoriosa com independência de classe, combatendo as ilusões em saídas reformistas, buscando a frente única e construindo a força e a organização de nossa classe para pôr abaixo o regime capitalista. Esse é o combate da Esquerda Marxista, tendência do PSOL.